Institutos de pesquisa do país se reúnem para realizar projeto-piloto em Mauá

O objetivo é uma investigação apurada sobre áreas de favelas, com uso tecnologia avançada que inclui altíssima resolução, 3D e mapas de calor

Mauá foi escolhida como campo de um projeto-piloto que reúne os mais importantes institutos de pesquisa do Brasil para atuar em duas áreas sujeitas a riscos socioambientais. Na última quarta e quinta-feira (23 e 24), pesquisadores e técnicos da Prefeitura, entre eles agentes da Defesa Civil, acompanharam sobrevoos com drones no território do Macuco, no Jardim Zaíra – área suscetível a movimentos de massa – e sobre a Vila Carlina, região de risco de alagamentos.

Trata-se do Cubo de Dados para Favelas (BDC – Brasil Data Cube – Favelas), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Um “cubo de dados” é uma estrutura que organiza grandes volumes de imagens espaciais de forma padronizada e contínua, permitindo análises, comparações e a produção de indicadores que apoiam o mapeamento dessas áreas.

“Inicialmente, serão feitos sobrevoos para a produção de ortofotos, que são imagens de alta resolução espacial”, explicou o coordenador do Laboratório de Gestão de Riscos e pesquisador da Universidade Federal do ABC (UFABC), doutor em Geografia, Christian Ricardo Ribeiro.

A iniciativa é do Centro de Estudos da Favela (Cefavela) da UFABC, que desenvolve pesquisas, promove a transferência de tecnologia e difunde conhecimento sobre as favelas. O projeto conta com a participação de instituições parceiras, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Universidade de São Paulo (USP), entre outras, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A escolha de Mauá foi favorecida pela parceria já existente entre a Prefeitura, a UFABC e o Ministério das Cidades, para a elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos de Desastres.

A plataforma resultante será pública e aberta, permitindo que a população tenha acesso a imagens e informações qualificadas de diversas fontes, inclusive sobre as comunidades e seus entornos. Pesquisadores abastecerão a plataforma utilizando tecnologia nacional e imagens captadas por satélites brasileiros e internacionais. A sociedade civil também poderá contribuir, ampliando a capacidade de diagnóstico e a elaboração de protocolos de coleta.

O modelo contrasta com o de grandes plataformas privadas, como o Google, que restringem o acesso a dados de interesse coletivo. “A UFABC já desenvolve estudos em Mauá, mapeando as áreas para atualização do Plano Municipal de Redução de Riscos. Todos esses estudos são fundamentais para que a cidade tenha informações precisas sobre seu território e, com isso, possamos elaborar políticas públicas que melhorem o atendimento e a qualidade de vida da nossa população”, afirmou o secretário de Defesa Civil, Sergio Moraes.

“A ideia é que possamos, junto a instituições governamentais e à comunidade, coletar dados de interesse para o planejamento comunitário e de políticas públicas, integrando essas informações a uma plataforma web”, explica a arquiteta e mestre em Sensoriamento Remoto, professora Flávia da Fonseca Feitosa, da UFABC.

Com a utilização dos drones, a resolução das imagens salta dos tradicionais 30 metros por pixel para apenas três centímetros, em formato tridimensional. Esse ganho em precisão permitirá à Prefeitura agir preventivamente diante de eventos extremos, como enchentes e deslizamentos.

Segundo a doutora em Sensoriamento Remoto do INPE, Maria Isabel Sobral Escada, os dados permitirão estudos multidisciplinares sobre as favelas, observando, por exemplo, padrões de ocupação, relevo, alturas e comportamentos urbanos.

Entre os trabalhos desenvolvidos estão a criação de mapas de calor, que analisam aspectos da urbanização como densidade habitacional, morfologia, ventilação, materiais utilizados nas construções e outros fatores. O mestre em Planejamento Urbano e Gestão Territorial, o indiano Rohit Juneja — especialista em análise termal que veio da Índia para atuar como pesquisador na UFABC — também acompanhou os sobrevoos. Ele destaca que o projeto permitirá medir o impacto do aquecimento global nas áreas estudadas.

A previsão é que o trabalho tenha duração de, pelo menos, cinco anos.