“Saúde do Trabalhador como Direito Humano” foi o tema escolhido pelo Ministério da Saúde para a 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, a realizar-se em agosto deste ano.
É o reconhecimento do grave quadro de adoecimento no ambiente de trabalho no nosso país. São doenças ligadas não somente à sobrecarga física, mas também psíquica. Porém esse quadro não se restringe ao ambiente de trabalho. Hoje, cada vez mais, trabalho e vida social se refletem mutuamente, o que faz de nossa sociedade também uma sociedade adoecida. Por exemplo, o sentimento de exaustão emocional, física e mental que caracteriza o burnout hoje, em alguma medida, permeia a sociedade.
Esse quadro se deve à grande transformação no mundo do trabalho a partir dos anos 80 e 90 do século passado como parte do processo da instauração do neoliberalismo. Houve a desregulamentação do trabalho, deixou de existir a jornada de trabalho regrada socialmente e o controle passou ao arbítrio das empresas e à vontade e capacidade dos trabalhadores.
Criou-se determinantes culturais, como o discurso da responsabilização individual pela produtividade e sucesso na vida. Os trabalhadores são levados a assumirem o desejo de trabalhar e de produzir cada vez mais, o que resulta em esgotamento físico e mental. Trata-se da cooptação da psiquê do trabalhador pelas empresas, levando a uma espécie de servidão voluntária. Porém ao não conseguir bater as metas, cresce o sentimento de impotência, frustração e fracasso, que não fica apenas relacionado ao trabalho, mas desborda para a vida comum.
A fragmentação, a individualização, a competição exacerbada levam ao rompimento dos laços de companheirismo no trabalho e mesmo nas famílias, resultando em uma espécie de patologização da sociedade. O ser humano é gregário. Precisa do convívio social para se referenciar. Na situação que se criou o indivíduo perde suas referências e tem que arcar sozinho com o sentimento de frustração e fracasso, chegando ao adoecimento mental e até ao suicídio.
Exemplo desse quadro é que no ABC paulista em 2024 foram registrados 7.626 processos na Justiça com pedidos de auxílio-acidente, incapacidade laborativa (temporária ou permanente) e LER/DORT ou tenossinovite (inflamação dos tendões) (Dados do DataJud, do Conselho Nacional de Justiça).
Precisamos vencer essa situação. É imperativo que os poderes públicos desenvolvam políticas voltadas à proteção da saúde e da vida da população.
Professor Luiz Eduardo Prates
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