todo mundo carrega uma mala invisível cheia de versões de si. vidas que não aconteceram, escolhas que não foram feitas, caminhos que ficaram só no quase. a gente segue, mas de vez em quando olha pra trás e se pergunta: e se eu tivesse dito sim? e se eu tivesse ficado? e se eu tivesse ido?
não é arrependimento, é curiosidade. é a sensação de que, em algum lugar do tempo, existe uma versão nossa vivendo outra história. e essa versão às vezes aparece em sonhos, em pensamentos aleatórios, em noites em que o sono não vem.
tem uma vida que você não viveu porque teve medo. outra que não viveu porque era o certo abrir mão. e tem aquela que você nem sabia que queria, até perceber que era tarde demais. cada escolha nossa é também uma renúncia. e cada renúncia, uma vida que se desfaz antes mesmo de começar.
mas isso não precisa ser motivo de tristeza. as vidas que a gente não viveu ajudam a moldar a pessoa que a gente se tornou. é como se cada “não” que dissemos desenhasse, com precisão, o caminho que era pra ser nosso. e, se a gente olhar com cuidado, talvez perceba que nenhuma vida seria melhor, só diferente. no fim, somos feitos tanto do que vivemos quanto do que deixamos de viver. e isso também é bonito. porque significa que, mesmo com os “e se”, ainda temos a chance de fazer valer a vida que escolhemos. ou, quem sabe, recomeçar uma nova, enquanto ainda há tempo.
enrico pierro
@enricopierroofc (Instagram, TikTok, X e Threads) e em seu blog: https://enricopierro.com.br/
escreve semanalmente para mais de 40 jornais e portais pelo brasil. seus textos também estão disponíveis nas redes sociais, onde compartilha reflexões sobre o cotidiano, sentimentos e humanidade.