São Caetano do Sul registrou 216 postos de empregos com carteira assinada no mês de abril, conforme dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, organizado e analisado por Bruno Castro, professor de gestão do Centro Paula Souza e pesquisador convidado do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS.
Segundo o professor, o estudo foi organizado com intuito de jogar luz na formulação de políticas públicas, orientar investimentos privados, subsidiar com dados e informações os profissionais de recursos humanos para formulação de políticas de recrutamento e seleção e oferecer suporte aos líderes de entidades de classes empresariais e sindicais trabalhadoras para uma melhor compreensão dos seus setores de atuação.
“Nesta edição, busquei ir além dos dados estatísticos do CAGED. Fui atrás das pessoas que vivem de fato o mercado de trabalho local. De um lado, líderes de entidades empresariais, como CIESP, CDL e ACISCS. De outro, líderes de entidades sindicais da classe trabalhadora, como SECABC E SOLIDARIEDADE. Quando nos sentamos à mesma mesa, suas opiniões e vozes diferentes – às vezes até opostas – revelam o que os números sozinhos não mostram. Essa escuta ativa humaniza os dados do CAGED, transformando estatísticas em histórias reais de desafios e oportunidades. Dessa escuta genuína entre quem trabalha gerando emprego e de quem trabalha no campo de batalha, nascem investimentos e políticas públicas que fazem sentido para São Caetano do Sul”, comentou o Professor Bruno Castro.
Segundo os dados, o setor de serviços encabeçou as contratações com a criação de 148 novos postos de empregos formais, impulsionado por serviços de segurança. Em seguida, o comércio puxou a fila com 67, impulsionado por vagas de vendedores demonstradores. O resultado do setor do comércio foi o melhor para o mês de abril desde o início da série histórica do novo CAGED em 2020, com destaque para contratações de mulheres.
Alexandre Damásio, Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Caetano, comentou o saldo positivo no comércio.
“Saldo positivo sempre é bom, mas a falta de mapeamento da cadeia produtiva local impede políticas públicas mais assertivas para formação e atração da mão de obra. Outro aspecto interessante é que o estímulo a determinados nichos, tal como criação de startups e inovação, sem estudo prévio, consome tempo e dinheiro em uma vocação que não tem adesão ao mercado local…”, comentou Damásio.
O Ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de São Caetano (ACISCS), Alessandro Leone, complementou, dizendo: “Apesar do saldo positivo nas contratações no setor do comércio, o resultado é muito tímido devido aos altos juros e agora pelo aumento do IOF. O setor produtivo sofre com a falta de crédito para investir e contratar…”, comentou Leone.
Jonas Santos, Diretor do Sindicato dos Comerciários do ABC (SECABC), comentou o resultado positivo sob a perspectiva da alta rotatividade do setor devido ao reflexo do regime da escala 6×1 e da falta de benefícios para os trabalhadores.
“A rotatividade no setor de comércio é muito alta. Apesar do saldo positivo, o setor tem dificuldades de encontrar profissionais devido ao reflexo da baixa remuneração, mesmo com nossos esforços em garantir o pagamento do piso salarial determinado em convenções coletivas. A falta de benefícios, como convênio médico e cesta básica, por parte dos empregadores, também é um reflexo da alta rotatividade. Além disso, vejo que os trabalhadores buscam alternativas ao regime da escala 6×1, priorizando qualidade de vida”, comentou Santos.
O setor de construção civil registrou saldo positivo de 1 emprego formal, com destaque para trabalhadoras de serviços administrativos.
Edison Luiz Bernardes, Presidente do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Construção e do Mobiliário “SOLIDARIEDADE-SP” do ABC, atribui a desaceleração do setor da construção na alta taxa de juros (Selic) e seu impacto no crédito habitacional.
“A Indústria da construção civil sempre foi um dos motores da economia brasileira, um setor de alta intensidade de mão de obra que impulsiona o desenvolvimento e a infraestrutura. Em 2025, a projeção de crescimento do setor é de 2,3%, uma nítida desaceleração em relação a 2024, que manteve um crescimento de 4,1%. Essa retração, impulsionada principalmente pela alta da taxa Selic e seu impacto no crédito habitacional, reflete-se também em São Caetano do Sul. Embora haja muitas pessoas do setor trabalhando nas obras de infraestrutura na cidade, como o consórcio ambiental, esses empregos no município têm prazo certo para acabar.”, comentou Bernardes.
Apesar do saldo positivo do setor de serviços, comércio e da construção civil, a cidade registrou um recuo de 126 postos de empregos formais, puxado pelo setor da indústria que perdeu 342 vagas. O saldo da indústria foi o pior para o mês de abril desde o início da série histórica do CAGED em 2020, superando inclusive o impacto inicial da pandemia.
“A dificuldade em conseguir mão de obra é um dos desafios significativos para o setor da indústria. A falta de qualificação, mudanças demográficas e concorrência por talentos são as causas desse momento que nosso segmento atravessa. A solução envolve investir em treinamento, parcerias educacionais, melhorias nas condições de trabalho e automação. Superar este desafio exige união entre setor produtivo, instituições de ensino, poder público e entidades de classe”, comentou Mauro Peres, Presidente do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) da cidade de São Caetano.
No saldo por sexo, as mulheres tiveram saldo positivo de 164 postos de empregos formais, enquanto os homens registraram um recuo de 290.
Quanto ao saldo por escolaridade, os trabalhadores com ensino fundamental completo foram os mais contratados, concentrando 25 empregos formais, seguido por ensino médio completo, com 21.
No saldo por idades, os mais jovens seguem dominando o saldo, com 165 vagas formais para a faixa de 18 a 24 anos.
Na comparação com abril de 2024, houve recuo de 107,52%, com perda de 1801 postos de empregos formais. Apesar do recuo, a cidade mantém um saldo positivo de 775 vagas no acumulado de janeiro a abril de 2025.
Ao todo, o município registrou no mês de abril 5.401 admissões e 5.527 desligamentos, apresentando um recuo de 126 vagas, totalizando um estoque de 118.121 trabalhadores com carteira assinada.
Alan Camargo, Subsecretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho, Turismo, Tecnologia e Inovação de São Caetano do Sul, comentou o saldo, pontuando a resiliência do setor de serviços e do comércio local, bem como a formulação de políticas públicas de estímulo à inovação que tem gerado um crescimento consistente nas vagas de trabalho voltadas para área de tecnologia.
“O saldo negativo apontado pelo CAGED reflete ajustes pontuais no mercado de trabalho formal, mas não retrata a totalidade da dinâmica da economia local. Em São Caetano, mesmo com a variação negativa no mês, os setores de serviços e comércio mantiveram um volume expressivo de contratações, o que
demonstra resiliência do mercado. Além disso, temos observado um crescimento consistente nas vagas voltadas para áreas de tecnologia e inovação, que estão alinhadas ao perfil altamente qualificado da nossa população economicamente ativa. Esse movimento é reforçado por políticas públicas de estímulo à inovação, como o fortalecimento do Parque Tecnológico e programas de capacitação em parceria com instituições de ensino e empresas. São Caetano está se posicionando como um hub de inovação regional, o que deve impulsionar ainda mais a geração de empregos de qualidade nos próximos meses.”, comentou Camargo.
MONITORAMENTO MENSAL DO MERCADO DE TRABALHO FORMAL EM SÃO CAETANO DO SUL – 2025
MESES | ADMISSÕES | DEMISSÕES | SALDO FINAL | ESTOQUE |
jan/25 | 5433 | 5314 | 119 | 117.465 |
fev/25 | 6305 | 5435 | 870 | 118.335 |
mar/25 | 5473 | 5561 | -88 | 118.247 |
abr/25 | 5401 | 5527 | -126 | 118.121 |
Fonte: MTE | Série com ajustes
Elaboração: Professor Bruno Castro (Pesquisador convidado do Observatório de Políticas Públicas,
Empreendedorismo e Conjuntura da USCS).