Pesquisas de opinião registram erosão consistente no apoio ao governo Lula, fenômeno intimamente ligado a uma contradição central: a adoção voluntária de mecanismos econômicos que travam sua própria agenda. O arcabouço fiscal, concebido e aprovado pelo próprio governo em 2023, opera como camisa de força que inviabiliza políticas prometidas à base eleitoral.
Este marco legal, ao limitar o crescimento dos gastos públicos abaixo das necessidades sociais, bloqueia investimentos estruturantes em saúde, educação e infraestrutura. O mecanismo é perverso: criado para supostamente garantir estabilidade, ele imobiliza o Estado exatamente quando mais se precisa de ação anticíclica e projetos de desenvolvimento. O resultado é a paralisia de programas sociais emblemáticos e o congelamento de obras estratégicas.
A contradição aprofunda-se com a política monetária. Gabriel Galipolo, indicado pessoalmente por Lula para o Banco Central, mantém juros elevados que estrangulam o crédito para produção e emprego. A opção por sustentar taxas altas – ainda que sob justificativas técnicas – contradiz o discurso de priorizar o crescimento. Paralelamente, a obsessão com metas inflacionárias rígidas impõe ajustes recessivos, enquanto privatizações (ou o eufemismo do governo – PPPS – Parcerias Público Privadas ) de setores estratégicos avançam sob modelos que amarram o Estado a longo prazo.
O governo colhe agora os frutos amargos desta arquitetura: trabalhadores que esperavam expansão de direitos veem o Estado refém de suas próprias regras. Programas sociais não avançam, investimentos emperram, e a sensação de paralisia cresce. O arcabouço fiscal, longe de ser um detalhe técnico, revela-se a engrenagem que trava a máquina estatal.
A queda nas pesquisas reflete esta percepção: quando um governo eleito para dinamizar políticas sociais adota mecanismos que as estrangulam, a desilusão não é acidente, mas consequência lógica. O limite não veio de opositores, mas do próprio núcleo decisório.
Max Marianek
Graduado em história
Funcionário Público