Diversas camadas e questões emergem com a ofensiva iniciada por Donald Trump contra o Brasil, especialmente diante de suas ameaças de tarifas e sanções aos juízes do STF.
A primeira delas é que essa investida estadunidense enterra de vez os defensores da tese de que o imperialismo, enquanto categoria analítica, estaria ultrapassado. Muitos intelectuais argumentavam que vivíamos na era da globalização, da “aldeia global”, em que as relações entre Estados seriam mediadas por instituições internacionais e multilaterais.
O ataque de Trump sobre o Brasil e diversos outros países escancarou a falsidade destas construções ideológicas, as máscaras da ordem liberal caíram, a verdadeira face da ordem imperialista está exposta, a fase do teatro de vampiros, onde os países imperialistas tentavam se passar por bons moços passou. E que fique claro, não é que Donald Trump criou uma nova ordem, ele apenas desnudou o que já acontecia nos salões de luxo.
Outro aspecto que desnorteia a grande mídia brasileira é a completa indiferença dos EU A em relação ao “Estado democrático de direito”. A justificativa de Trump – de que os direitos humanos de Bolsonaro estariam sendo violados (afirmação, por si só, inusitada, dado o histórico de desdém da família Bolsonaro por essa pauta) – soa como uma piada de mau gosto. Enquanto isso, por exemplo, os EUA mantêm ótimas relações com a Arábia Saudita, governada por uma monarquia de caráter quase medieval.
Além disso, os EUA exigem abertamente a intervenção em um poder independente – algo que, no viés vira-lata da grande mídia brasileira, sempre foi associado aos “países latino-americanos populistas”. Agora, porém, a demanda parte justamente da nação tida como o maior exemplo de democracia liberal, o que gera um evidente estado de estupefação.
Esses são alguns elementos da dimensão ideológica do problema. Nos próximos artigos, abordaremos os impactos em nossa balança comercial deficitária com os EUA, os interesses econômicos e políticos em jogo e a urgência de o Brasil debater um projeto nacional de desenvolvimento.
Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público