Há, nos cafundós do Brasil, principalmente em regiões de mineração, muitas cidades fantasmas.
Cidades outrora pungentes, com povoamento extrapolando os limites do habitável, movidas pela dinâmica da ânsia febril da riqueza instantânea. Que ao cessarem suas fontes, viram-se relegadas ao caos. Povoadas de nostalgia e tristeza. Algumas totalmente abandonadas. Outras, habitadas por pouca gente voltada ao passado. Remoendo ilusões. Esperanças desfeitas. Vivendo o avesso da vida.
São Bernardo do Campo não é uma cidade fantasma. Ao contrário. É uma cidade vivaz, com empresas importantes, com comércio expressivo, com grande população. Estimativamente, cera de 840.500 habitantes, o que a coloca entre as 20 maiores do Brasil. Refletindo a realidade nacional, é formada por pequena parcela de super ricos, classe média expressiva, talvez proporcionalmente maior que a do país, e uma imensa população de pessoas nas diversas faixas de pobreza.
Entretanto, é possível sentir certo ar de saudosismo de um tempo passado, em que a riqueza circulava mais intensamente, em que a vida se expressava em trabalho e esperanças. Tempo de crescimento exponencial de população, atraída pela indústria automobilística, toda a sua cadeia produtiva e adjacências.
Tempo que passou, devido a vários fatores. O principal, talvez, a desindustrialização e a diversificação dos parques produtivos Brasil a fora. Virou uma cidade majoritariamente da circulação e consumo, não da produção.
O que ainda a anima é uma classe média importante, fruto de uma “aristocracia operária”, formada há anos na luta do Sindicato dos Trabalhadores, com melhores salários e melhores condições de vida que a maioria dos demais trabalhadores do Brasil.
Não há como não reconhecer certa frustração com o que foi e deixou de ser. Com um futuro que não se realizou. Surge então a pergunta, será essa sensação a responsável por opções políticas que pregam prosperidade, melhoria da vida, retorno a um passado idílico, porém sem projeto claro, sem base na realidade concreta e inflamado de individualismo, nitidamente de direita?
Não seria o caso das forças de esquerda, tomando consciência do tempo presente, articular um projeto coletivo de inclusão e bem-estar para todos, com o que for possível de distribuição de oportunidades e condições de vida, capaz de encantar e mobilizar as pessoas? Será a esquerda também caudatária desta nostalgia e incapaz de articular um projeto assim, evitando eleições como a do prefeito afastado?
Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com