E, no entanto, se move. Palavras atribuídas a Galileu Galilei, como um desabafo quase inaudível, após ser obrigado a se retratar por sua teoria de que a terra não é imóvel e gira sobre seu próprio eixo.
Também nós, muitas vezes com pessimismo, pensamos que nada se modifica nas questões de nossa política. Porém, não é o caso.
Nas duas últimas semanas presenciamos acontecimentos impensáveis há pouco tempo: a condenação de um ex-presidente da República e de vários generais; manifestações de massa contra decisões da Câmara Federal; e algo não propriamente impensável, mas com um peso nacional e internacional muito forte: o discurso do Presidente Lula na abertura oficial da Assembleia da ONU.
As condenações pelo STF falam por si. E, por serem as primeiras depois dos mais de quinhentos anos do país, ganham uma força de expressão e de pressão sem precedentes sobre a dominação das oligarquias e elites econômicas. Servem, ainda, de alerta a quem se aventurar contra os fundamentos da República.
As manifestações de 21 de setembro chamam a atenção: foram massivas, reunindo milhares de pessoas praticamente em todo o país, não apenas nas capitais, mas em muitas cidades do interior de cada estado; sem precedentes recentes no campo democrático popular; praticamente espontâneas, sem convocações por partidos políticos ou lideranças exponenciais; sem algoritmos na internet e sem recrutamento com lanches e passagens pagas. Foi um grito de “ainda estamos aqui” contra medidas que ofendem a população, especialmente a PEC da impunidade e a anistia aos golpistas de janeiro de 2023. Fez uma retomada dos símbolos nacionais. E não há como não comparar com a vergonhosa manifestação de 7 de setembro, na Avenida Paulista, em que, no Dia da Pátria, foi estendida uma enorme bandeira de um país estrangeiro.
Alguns destaques do discurso do Presidente Lula na ONU. “Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra”. “o Brasil deu um recado […]: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”.
“Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral. Seu vigor pressupõe a redução das desigualdades e a garantia dos direitos mais elementares: a alimentação, a segurança, o trabalho, a moradia, a educação e a saúde”. E sobre a proposta de anistia: “Não há pacificação com impunidade”.
O cenário se move. Não podemos parar. O povo na rua é a força motriz para as mudanças. Dentre elas, para apoiar e forçar o governo a tornar práticas as declarações do presidente.
Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com