A Força do Povo

Ainda precisamos falar sobre o 21 de setembro. Ocorreram manifestações sem convocações por algoritmos. Sem preparações por semanas cuidando da logística, de deslocamentos, de palcos, de aparelhagens. Sem financiamento para viagens e para lanches. Com alguns chamamentos, mas praticamente espontâneas, reunindo cerca de um milhão de pessoas no Brasil todo.

Qual o significado profundo dessas mobilizações? Essa pergunta faz sentido porque, em sua essência, as manifestações vão muito além de apenas demonstrações da indignação popular com PEC da blindagem ou com a anistia aos golpistas de 08 de janeiro de 2023.

Significam que a população disse um basta à forma como a política tem sido conduzida nas últimas décadas. Política dos conchavos, dos acordos secretos, do toma lá dá cá, que se preocupa mais com resguardar privilégios e carreiras políticas. Até mesmo a esquerda, na defesa da governabilidade, entrou nesse jogo.

O que ocorreu foi que que as bases assumiram um protagonismo político que há tempo não tinham. Profundas placas tectônicas da política brasileira, invisíveis a olho nu, se moveram e desestabilizaram o que antes se pensava completamente estável.

O Congresso Nacional acusou o golpe. Na quarta-feira seguinte, o Senado enterrou de vez a PEC da Blindagem. E muitos deputados que votaram a favor recorreram à secretaria da Câmara para anular seu voto temerosos de perder suas bases. E nesta semana foi aprovada na Câmara isenção de impostos a quem ganha até R$ 5.000,00. Por unanimidade. Proposta que tramitava há tempo.

O presidente Lula imediatamente reconheceu isso. Na quarta-feira seguinte às manifestações, em discurso na ONU, declarou: “Meu partido, quando foi criado, tinha núcleo de categoria, núcleo por bairro, núcleo por vila, núcleo por local de trabalho, por local de estudo […] a sociedade civil organizada […] que fazia com que a democracia pudesse vencer….”. Falou da “organização por bairro, por local de moradia, por local de estudo, por local de trabalho”.

Fica evidente que o que faz avançar o processo político é a organização popular e a mobilização das massas.
O momento, no Brasil e no mundo, é grave. Principalmente pelo avanço da extrema direita que, entre outras coisas, pelo negacionismo, coloca o planeta em risco de uma catástrofe irreversível.

O desafio, como povo e governo, é investirmos na mobilização das bases para seguir nas conquistas necessárias para a dignidade de vida de toda a população e para um país mais equitativo, justo e feliz.

Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com