Este pedaço de chão, que já se chamou Tijucuçu, foi povoado de São Paulo, distrito de São Bernardo do Campo, subdistrito de Santo André, e que está completando neste 24 de outubro, setenta e sete anos de autonomia administrativa, num passado não tão longo assim, conseguiu sair da pecha de vila do tifo para a cidade onde os alunos tinham escola para estudar.
Nos idos de 1945, a então vila de Santo André, conhecida pelo nome de São Caetano vivia um de seus períodos mais tristes. Era muito grande o número de crianças que morriam por causa do tifo, uma doença proveniente da falta de saneamento básico. Naquele tempo, as ruas não eram revestidas de paralelepípedos e muito menos tinham camada asfáltica. Sarjeta e as guias nem pensar. O esgoto com a água suja dos banheiros corria a céu aberto, infectando a criançada que ali brincavam e passavam os dias.
A falta de canalização era só um dos graves problemas que a população enfrentava. Escolas não eram construídas, hospital era um sonho impossível, Iluminação existia em poucas vias, a precariedade de São Caetano era total e em todos os sentidos.
O interessante desse fato é que a vila São Caetano não era para ser pobre. Aqui o parque gráfico já era intenso. Tínhamos o conglomerado industrial da Matarazzo e até a General Motors já mantinha sua sede na então Rua Goiás. O número de empresas já era bem acentuado e claro os empresários pagavam elevadas somas de impostos que eram levados para Santo André e não voltava em forma de benefícios para os moradores.
Tudo isto entristecia quem aqui morava. Outro fato que vinha desagradando o povo é que em 1938 quando Santo André substituiu São Bernardo como sede do Município, São Caetano passou a se constituir como Segunda Zona do Distrito, para em 1.944, ficar reduzida a Segundo Subdistrito de Santo André, enquanto São Bernardo passava a novamente ser município autônomo. Ou seja, ao contrário de nos desenvolvermos, estávamos cada vem mais descendo ladeira abaixo.
Sua população cansada de morar em uma simples vila, nos idos de 1945 nascia um movimento pró autonomia pedindo a separação de Santo André. Desta forma em 1.948, sob o manto da Sociedade Amigos de São Caetano e incentivado pelo Jornal São Caetano é realizado um abaixo-assinado com 5.197 nomes de moradores, todos maiores de 18 anos, documento esse que foi entregue na Assembleia Legislativa, reivindicando o plebiscito que viria acontecer em 24 de outubro daquele ano.
Nessa época São Caetano tinha uma população de 40.039 habitantes. Participaram do plebiscito 9.520 moradores e destes, 8.463 votaram pelo Sim, autorizando que pela Lei n° 233, fosse criado em 24 de dezembro daquele ano, o município de São Caetano, acrescido do apêndice “do Sul”, para diferenciar de uma cidade pernambucana, que já tinha este nome.
Em 1° de janeiro de 1.949 é instalado o Município de São Caetano do Sul. Logo acontece a eleição quando foi eleito como primeiro prefeito, o Dr. Ângelo Raphael Pellegrino e eleita a primeira Câmara de Vereadores, que tem como seu primeiro presidente o eleito Accácio Novaes. A posse acontece no dia 3 de abril.
A agora, cidade vai crescendo. Sabendo utilizar os impostos que passaram a ficar no município os prefeitos calçaram e iluminaram as ruas, prédios escolares foram erguidos, tudo se transformava, e em vinte anos, a outrora vila do tifo, se transformava na cidade onde escola não era problema.
Humberto Domingos Pastore