Horror e Luto

Dias de perplexidade. A operação no Rio de Janeiro, na Penha e no Alemão, na última terça-feira, chegou a um nível que não pode ser normalizado. Até agora, 121 mortos, sendo quatro policiais.

É verdade, a população se divide. Parte acha que deve ser assim mesmo e alguns dizem que deveriam morrer mais. Outra parte pergunta: são todos bandidos mesmo? É assim que se deve tratar bandidos, com condenação sumária, por policiais que não tem formação para isso, e executam friamente quem pensam culpado? É matando os miúdos e deixando soltos os chefes de fato, que não moram nos morros, que são engravatados e até frequentam palácios e o parlamento, que se vai resolver o problema da criminalidade associada ao tráfico de drogas?

Há fortes indícios que essa operação teve propósitos de muito maior alcance. Um deles é a entrevista do governador dizendo não ter tido apoio do governo federal.

Logo após o Ministro da Justiça e Segurança Pública garantir que não houve nenhum pedido de ajuda e nem sequer aviso da operação, o governador voltou atras. Porém o primeiro objetivo já estava atingido: fazer a acusação ao governo federal e ‘mudar o jogo’, pois com a atuação de Lula se encontrando com Trump, por telefone e pessoalmente na Malásia, a popularidade do presidente estava em alta. A afirmação mentirosa de Claudio Castro trouxe a direita de volta aos holofotes. Aliás, é de se perguntar por que a operação ocorreu exatamente quando Lula estava em voo e incomunicável, em uma viagem de 24 horas. Não terá sido para que o governo não pudesse mesmo intervir?

Ainda mais grave é outro indício. Também em entrevista, o governador disse que estava combatendo narcotraficantes. Essa parece uma senha da direita internacional para autorizar o intervencionismo truculento norte-americano em diversas situações. Por exemplo, as explosões de barcos no Caribe e as ameaças de invasão à Colômbia e à Venezuela. Seria um convite à intervenção dos Estados Unidos no Brasil?

O governador também mirava se apresentar com credenciais de quem combate o crime para ser candidato e se eleger. Parece, porém, que a operação foi de tal ordem que tem mais potencial para se voltar contra do que a favor dele.

Horror e luto, sim. Não se pode normalizar tantos mortos indiscriminadamente. Se trabalhadores do tráfico, que sejam presos e encaminhados à justiça.

Quem ganha mesmo com operações assim? O próprio crime organizado, que mantém ilesos seus chefes, considerados pessoas de bem e em conluio com a burguesia nacional.

Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com