Há cerca de 30 anos Edgar Morin, sociólogo e filósofo francês, escreveu “na era da disseminação nuclear e da degradação da biosfera, tornamo-nos, por conta própria, um problema de vida e/ou morte”.
A COP 30 está iniciando. O nome do evento já evoca uma verdade: nenhum país é a totalidade. Somos partes: Conferência das Partes. Desta vez, sediada no Brasil, em Belém. A questão central: o aquecimento global e como salvar o planeta. São quase 200 países e territórios. Entretanto, o segundo maior emissor de gases tóxicos atualmente e o primeiro desde a revolução industrial, se recusa a participar: os Estados Unidos da América.
A advertência de Morin, na época tida como descabida ou muito distante, dramaticamente se torna realidade. Somos testemunhas de eventos climáticos devastadores atribuídos hoje pela ciência à ação humana. É o Antropoceno – a era geológica marcada pela interferência do ser humano no planeta. Até aqui as eras geológicas obedeciam a fenômenos naturais. A atual, à responsabilidade humana.
O assunto é imenso, de grande complexidade e contradições. Têm os países que se desenvolveram, em grande parte graças à exploração de mão de obra e de recursos naturais de nações pobres, o direito de serem os únicos a desfrutar as benesses das riquezas e níveis de vida adquiridos por esses meios? Ou os demais países também têm o direito a se desenvolver? Qual é o custo de manter os níveis dos desenvolvidos e o desenvolvimento dos pobres? O progresso é só para alguns? Ou é direito de todos?
É aqui que se chega à falácia do capitalismo. Esse modo de produção repousa no axioma que o progresso é infinito. E hoje se constata que não é. Manter a situação atual é caminhar para a extinção da espécie. É a luta de classes escalando para a esfera global.
E chega-se a um paradoxo: o custo de manter a situação atual é o investimento maciço em armamentos por parte dos ricos para se precaver contra possíveis ações dos pobres.
São recursos que divididos solidariamente entre os países poderiam financiar projetos de salvação de regiões e do planeta. Isso explica por que os EUA não participam da COP.
Internamente no Brasil temos também um paradoxo: a investida no parlamento para derrubar os vetos do presidente ao PL da devastação. O argumento é a necessidade de progresso. Para quem? A questão da exploração do petróleo na margem equatorial é também parte dessa complexidade.
Disse Marx que a humanidade não se propõe problemas para os quais não tenha solução. Teremos salvação?
Professor Luiz Eduardo Prates
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