A imprensa e os ecos da conspiração

A imprensa tornou-se a peça-chave na conspiração contra Goulart em fins de 1963, Segundo Marcos Napolitano, quando três dos principais jornais cariocas – O Jornal dos Diários Associados, o Jornal do Brasil, da família Nascimento Brito, e O Globo, da família Marinho – uniram vozes na chamada Rede da Democracia, um arranjo midiático a favor da destruição do governo de Goulart.

O movimento era inspirao no seu contrário, a Rede da Legalidade, organização de resistência liderada três anos antes por Leonel Brizola, à época governador do Rio Grande do Sul, contra a quebra da legalidade constitucional articulada pelo Exército, Marinha e Aeronáutica na tentativa de impedir que Jango assumisse o governo após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961.

A exemplo da rede de Brizola, a Rede da Democracia usou o rádio para ajudar a enfraquecer o governo Goulart. Todos os dias, explica o pesquisador, subsidiados por organizações como o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes) e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (ibad), políticos, empresários, militares, jornalistas e sindicalistas, entre outros, articulavam-se ao então presidente, em discursos em defesa do nacionalismo contra o comunismo, criticas à ineficiência do Congresso,à falta de legitimidade de Jango e ao perigo de o governo ceder às pressões de manifestação de massa dos movimentos populares.

Meio século depois, a Rede da Democracia tem sido objeto recorrente de estudos, atraindo a atenção de historiadores que tentam entender até que ponto ela influenciou o processo de disputa pelo controle do Estado por meio da doutrina ideológica voltada à desestabilização do governo de Goulart.

O trabalho mais recente é do historiador Aloysio Castello de Carvalho. Em sua pesquisa de pós-doutorado em historia social na USP, cujos resultados, foram publicados no livro A Rede da Democracia: O Globo, O Jornal e Jornal do Brasil na queda do governo Goulart (1961-1964), ele procura identificar padrões discursivos na retórica conservadora usada pelos jornais nas criticas do governo Jango.