Um dos maiores momentos de êxtase na vida de uma pessoa é estar no show de seus artistas favoritos. A sensação de poder gritar, pular e cantar as músicas é única e vale cada um dos muitos centavos gastos no ingresso. E bota muitos centavos nisso. A indústria de entretenimento no Brasil movimenta milhões e se torna cada vez mais popular. Os artistas internacionais querem vir mais e mais tocar no Brasil, já que aqui a lotação nos shows é quase sempre 100% garantida, e também, pelo público brasileiro ser sempre um dos mais calorosos e receptivos de todos.
Mas, vamos voltar um pouco no começo do texto e relacionar o êxtase, a popularidade e a complexidade deste assunto. O que vou escrever abaixo pode não ser de consentimento geral, e nunca na vida, se trata de preconceito da minha parte. Considerem mais um desabafo.
De uns anos pra cá, conforme dito acima, há uma procura muito grande para shows no Brasil, ora do público, ora dos empresários, ora dos artistas pelos motivos também já citados acima.
Devido a essa grande demanda, é normal que a comunicação dos eventos também aumente, com a massificação da internet, então, fica mais fácil ainda.
Para mim, o problema que vejo hoje nos shows, é o desinteresse das pessoas em saber mais sobre o artista que vai tocar. As pessoas se preocupam mais pelo fato de ir ao show por status e se marcar nas redes sociais, do que realmente ir para curtir o clima contagiante do show e apreciar o artista e sua música.
Agora, qual a relação do êxtase nisso tudo?
Simples. Vou responder com um exemplo para ver se fica mais fácil de entender. Fui assistir ao show do Pearl Jam nas duas vezes que eles vieram ao Brasil, em 2005 e 2011. Na primeira vez, o show deles foi sensacional, do começo ao fim; performance, set list e reação do público. O público pulou da primeira a última música, logicamente se empolgando mais em músicas mais famosas, mas não deixando de curtir as outras músicas não tão populares que foram tocadas.
Agora no show de 2011, não senti nem de perto a mesma vibração do público. As pessoas pouco pularam, cantaram só as canções mais populares, como Black, Alive e Daughter, e, o que me deixou mais indignado, não demonstraram o mínimo de empolgação com os famosos covers de Ramones (I Belive in Miracles) e Neil Young (Rocki’n in the Free World). Lógico que não estou falando de todos os presentes, mas não se compara ao primeiro show, que teve um repertório muito parecido. No de 2011, em um momento, um rapaz até pediu pra eu parar de pular (não me lembro a música), que não aguentei e tive que falar “Meu amigo, isso é um show, não uma missa.” e continuei pulando e curtindo.
Outro exemplo. Não sou muito fã de Foo Fighters, mas fui conferir o show (não só) deles no Lollapalooza de 2012 no Jóquei Clube de São Paulo. Tenho que admitir que eles têm uma excelente performance no palco e o show é muito enérgico. Lembro que eles abriram o show com All My Life, que foi uma ótima música para botar todo mundo pra pular. No decorrer do show, tocaram algumas músicas antigas (o que me surpreendeu, pois são músicas muito boas e nem 5% do público conhecia) e também tocaram algumas músicas dos últimos discos que eu não conhecia, e para minha surpresa, muita gente que estava no show, também não.
Desse fato, eu tirei a conclusão que muitas pessoas não vão ao show pra curtir a banda e suas músicas, mas sim, só para postar nas redes sociais e falar “Fui no show do Foo Fighters”, ou também “Fui no Lollapalooza, um festival novo aqui no Brasil”, e nem se ligam de que se trata do Lollapalooza: um famoso festival criado há muitos anos atrás pelo Perry Farrel do Jane’s Addiction, de rock e música eletrônica. Não precisa conhecer e cantar todas as músicas do show à risca, mas com certeza vale a pena pesquisar um pouco mais sobre a banda que você está indo ver para não pular só na música que tocou nas rádios. É até questão de respeito com eles.
Na minha opinião, este é um problema pouco mais presente em mega-shows (shows e/ou festivais que são feitos em estádios, ou em lugares que comportam grande quantidade de público). Quando os shows são menores, o público que vai ao show se interessa mais pelo artista e pelas músicas, e não pelo status e grandeza do festival que está indo.
Fui assistir ao show da banda de hardcore NOFX, em 2012, em São Paulo. Foi um show que não teve grandes divulgações e mesmo assim foi lotado. Os presentes pularam e cantaram praticamente todas as músicas, do começo ao fim.
De novo, não é um preconceito da minha parte e não quero só grandes entendedores de músicas nos shows. Não. Todo mundo é livre de ir e vir. Mas este desabafo é também para cada um se por no lugar do artista. Todo artista quer que as pessoas curtam seus shows, cantem as músicas, não só as famosas. Abaixo vou citar algumas dicas (que já fiz muitas vezes) antes de ir a um show:
– No caso de festivais, procure saber sua história. Quais bandas já tocaram em edições anteriores, país de origem, quem criou o festival, etc. Isso nunca será um pré-requisito, mas só aumentará seu conhecimento musical e cultural. Esse tipo de conhecimento nunca é demais.
– Procure saber mais sobre a história da banda / artista. Saber da carreira de um artista também é um riquíssimo conhecimento. Isso fará com que você se interesse por bandas parecidas que fazem ou fizeram parte do mesmo cenário musical e, quem sabe, consequentemente, ir ao show de outra banda que você nem imaginaria conhecer.
– Não ouça só as músicas famosas. Em muitos casos, as melhores canções das bandas não são as que tocam nas rádios. Buscando mais sobre as músicas você descobrirá excelentes canções que você não sabia que existia e isso, com toda certeza, fará você aproveitar bem mais o show.