Dermatologista esclarece dúvidas e dá dicas para se cuidar em toda estação, ao ar livre e em ambientes fechados
O verão já ficou para trás, o outono chega ao fim e, com a proximidade do inverno, aumenta a impressão de que o sol não nos afeta mais. É nesse ponto que mora um dos perigos para o câncer de pele.
“Temos muito a cultura de que se não está sol, não preciso usar protetor”, destaca a dermatologista Paula Cristina de Faria Sanchez, do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida. A médica explica que esse problema ocorre não apenas no inverno, mas também no verão, em cidades como São Paulo, em que o sol nem sempre é tão intenso.
Paula comenta que quando está sol forte é pior, mas mesmo com tempo nublado há incidência dos raios UVA e UVB, que causam câncer de pele. Por isso, mesmo sem sol é preciso se proteger, utilizando protetor solar.
A dermatologista dá uma dica para ficar fácil entender quando usar protetor: se está claro, os raios estão presentes. Paula lembra que passar protetor solar é importante não apenas na prevenção ao câncer, mas também para evitar o envelhecimento da pele e o surgimento de manchas.
Quanto protetor passar? Que índice usar? Quando é preciso reaplicar? São muitas dúvidas que surgem na hora de proteger a pele. Para ajudar, Paula Sanchez esclarece algumas questões.
Quanto protetor usar
Para facilitar na hora de saber quando protetor solar é necessário utilizar para garantir uma boa cobertura da pele, a dermatologista indica a quantidade preconizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia: 1 colher de chá de protetor solar para uma área correspondente a uma face e pescoço.
Reaplicar ou não
Um dos itens essenciais na proteção, destaca a médica, é a importância da reaplicação do protetor solar. “À medida que as horas passam, a proteção não sai totalmente, mas perde um pouco ao longo do tempo. Quem passou fator 30, por exemplo, com o avanço das horas vai ficando com proteção 20, 15”, avisa. “O ideal é reaplicar depois de duas a três horas”.
Qual fator é ideal
Fator 15, 30, 45, 60, 70… Com as variedades multiplicando-se nas prateleiras de supermercados e farmácias, cada vez surgem mais dúvidas sobre qual o fator ideal para garantir a proteção.
Para esclarecer, Paula usa outro consenso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, resultado de diversos estudos: para o dia a dia, o fator 30 é suficiente. Mas é o mínimo, não deve ser menor do que isso. “Se puder usar mais, melhor. Mas o benefício, à medida que aumenta o índice, não é tão grande”. Os fatores maiores são mais indicados sobretudo quando houver mais exposição ao sol.
“Em uma cidade como São Paulo, quem não fica tanto ao ar livre, fator 30 está bom. Já na praia, com calor, a pessoa fica mais exposta, sua mais – então, o indicado é pelo menos fator 50”.
Mas se o fator 30 é suficiente, por que a ideia de ‘se usar mais, melhor?’ A dermatologista esclarece: “Porque nem sempre a pessoa aplica a quantidade certa, e nem sempre reaplica. Se aplicou fator 30 e não usou corretamente nem reaplicou, vira 20”.
Então, o segredo não é só que fator usar: é cobrir toda a pele e reaplicar.
“Se aplica a quantidade errada ou não reaplica, diminui a proteção ao seu corpo”, ressalta Paula, lembrando que o fator de proteção é o número de vezes que seu corpo teria que ser exposto aquela radiação para ficar vermelho. “Quando perde a quantidade de protetor solar, perde fator de proteção também, até que ele sai completamente e fica sem proteção”.
Segundo a médica, quando o paciente chega ao consultório com queimaduras do sol, ou a pessoa não passou a quantidade correta ou não reaplicou.
E quem trabalha em local fechado?
Mesmo as pessoas que trabalham em locais fechados precisam aplicar protetor solar. Além do deslocamento para ir ao trabalho, tem a saída e volta do almoço. “Em ambientes fechados, apesar dos raios UVB não incidirem, se há entrada de luz natural, há incidência dos raios UVA uma vez que eles atravessam o vidro”, avisa.
A dica da dermatologista é aplicar antes de sair de casa, pela manhã. E reaplicar ao longo do dia, de preferência antes de sair para almoçar. Como a incidência maior é antes das 10 horas da manhã e após às 16 horas, quem sai do trabalho após esse horário, em tese não precisa aplicar novamente o protetor antes de ir embora. Mas se a ideia é proteger totalmente, vale o aviso: “Enquanto estiver claro, está passando raio solar. Então, é bom repassar se for sair com o céu ainda claro”.
O alerta vale especialmente para pessoas que têm histórico pessoal ou familiar de câncer de pele.
Dermatologista vai mapear seu corpo
O fato de passar protetor solar ajuda a proteger sua pele, mas não quer dizer que o risco de câncer de pele seja zero. Como cita Paula, o protetor diminui o risco, mas não isenta a pessoa.
Isso acontece primeiro porque a exposição solar que provoca o câncer de pele é cumulativa – você passa protetor agora, mas tem todo o sol que recebeu ao longo da vida. Além disso, alguns tipos de câncer de pele, como o melanoma, têm mais relação com fatores genéticos. Por isso há áreas que não recebem tanto sol, como barriga e perna, que podem ser afetadas pela doença.
Os cuidados com a pele incluem, portanto, consultas periódicas com o médico dermatologista, que vai examinar pintas e possíveis sinais de câncer de pele. Para quem não tem fator de risco, Paula avisa que o ideal é uma consulta anual.
“Para quem tem muita pinta e histórico familiar, fazemos um mapeamento corporal, com foto do corpo da pessoa e detalhes de algumas pintas mais importantes. Quando tem muita, não conseguimos identificar a que mudou, se tem uma nova”, diz a médica. Nesses casos, o retorno pode ser em um tempo menor, dependendo do caso, com prazo de 3 a 6 meses. O mesmo para quem já teve carcinoma, que necessita de um acompanhamento.
Workshop debaterá o tema
O Instituto Lado a Lado pela Vida realiza, no dia 4 de julho, o II Workshop Câncer de Pele e Melanoma em São Paulo. A ideia é ampliar a discussão sobre este tipo de câncer, o aumento da incidência em diversas regiões do país, ações preventivas necessárias, diagnóstico, acesso e tratamento. O workshop também abordará as novas tecnologias para o tratamento do câncer de pele e melanoma, incluindo as discussões sobre o mapeamento genético da doença. Informações no site www.ladoaladopelavida.org.br.