Num dia chuvoso, já final de tarde, no supermercado eu escolho inhames. Dizem que faz bem ao sistema imunológico. Não gosto do sabor, mas se for pra reforçar o sistema imunológico, que importa o gosto!
De súbito ouço uma voz. É a mãe que chama sua filha pequena que se afasta dela, numa alegria que não falta a uma criança. A mãe dedicada e cuidadosa não espera e logo usa em voz alta um argumento bastante conhecido, poderia dizer, tradicional: “filha venha pra cá, olha a bruxa, ela vai te pegar! Tá lá no cantinho, vem pra cá, corre!” A pequenina fica em dúvida por um instante, mas logo vai na direção da mãe, que olha vitoriosa e segura de si. Foi fácil, nem precisou de muito esforço.
Ah, se a menina soubesse que a mãe mente! Descaradamente mente! Mente, porque não tem consciência da potência do veneno de suas palavras. Mente, porque a preguiça toma conta do seu ser. Mente, porque não pensa no que acontece lá dentro da cabecinha desta pequena, que registra a informação. Mente, porque duvida de sua própria inteligência. Mente, porque se recusa a decidir por outra forma de agir. Mente, porque está acostumada a mentir.
E a menina? Aprende bem depressa a não acreditar em si, no seu discernimento, percepção e intuição. Também aprende a mentir, além de fixar o fato de que bruxas costumam andar pelo supermercado em dias chuvosos, preferencialmente em fins de tarde e se esconder pelos cantinhos!
Menina! Não acredite! Sua mãe mente! Descaradamente, mente!