Redenção

A experiência religiosa, em sua essência, representa uma das mais belas manifestações simbólicas do ser humano na constituição de sua existência. A Religião se apresenta como um caminho da beatitude e da autorrealização do ser humano em sua vida, associando-se ainda a questões tais como o problema da finitude e a expectativa do porvir, os valores das ações humanas imputadas como boas ou ruins, a manifestação do sagrado na esfera cotidiana, dentre inúmeras outras possibilidades.
Nessas reflexões, a reflexão filosófica sobre a prática religiosa é sempre um ofício de grande dignidade intelectual. Uma Religião de valorização metafísica postularia que seus princípios existenciais e morais constituiriam em promover, mediante uma série de preceitos normativos e rituais, o restabelecimento da ligação espiritual do indivíduo para com uma realidade transcendente a ele, “Deus”, ou outra entidade que personifique um ideal de perfeição ou superioridade ontológica em relação ao ser humano.
Entretanto, a experiência sagrada da religião pode muito bem ocorrer no âmbito de uma relação puramente imanente, sem que haja qualquer postulado suprassensível que sustente o ideário valorativo dos preceitos de conduta que servem de guia para o indivíduo, ou a coletividade de fiéis, possa alcançar algum tipo de interação com a esfera divina.
Dessa maneira, podemos encontrar no decorrer da história da humanidade diversas práticas religiosas, cujas valorações existenciais se pautam em princípios imanentes, preconizando o desenvolvimento de uma vida mais plena e saudável, condição para que a própria busca pelo sagrado se torne mais rica, pelo fato de ser movida não pela necessidade de se saciar uma indigência existencial, mas pela necessidade de dar vazão a uma abundância de forças vitais situadas no próprio âmago humano, atividade que certamente se caracteriza concretamente pelo desenvolvimento de interações alegres entre indivíduos, promovendo-se assim uma espécie de beatitude prática que é a mais bela glorificação da vida.
Nessas condições, podemos dizer que se trata de um preconceito sem igual a formulação da crença de que o âmago da experiência religiosa nasce exclusivamente de uma fuga do real, um desvio do enfoque cognitivo, afetivo e existencial acerca da realidade circundante, motivando a necessidade de criar um patamar sagrado em que todas as misérias humanas que não são adequadamente resolvidas serão convenientemente resolvidas no além vida, na dimensão suprassensível.