Mãe Ausente

Ala Voloshyn

Ala Voloshyn

10 de Janeiro

Nunca entendi bem por que meu pai guarda uma colher de sopa que pertenceu a sua mãe, assim como não havia prestado atenção ao valor que tinha para minha mãe um lindo lenço cor de fogo todo florido que foi de sua mãe, que às vezes mostrava-me tirando-o de uma gaveta. Certas coisas não são claras até o dia em que passamos pela mesma experiência e agora entendo o motivo de usar um anel que era de minha mãe. Agora sei porque uma amiga da família, um dia apareceu trajando o vestido de sua mãe e num dado momento comentou: “hoje acordei com muita saudade de minha mãe e por isso vesti seu vestido”.

A ausência da mãe sempre é sentida, seja ela por que motivo for. Por falta de seu afeto, porque foi embora, porque nunca se soube quem é ou pela sua morte. Esta mulher faz parte de todos os momentos, sejam eles felizes ou não. Ela é uma figura que nunca nos deixará pela importância que tem em nossas vidas. Mas que importância é esta? Parecemos bebês carregando aquele paninho que esfregamos no nariz para adormecer! Precisávamos sentir o cheiro dela para nos dar segurança e tranquilidade.

O cheiro, o paninho, o vestido, o anel, o lenço, a colher, são objetos que representam um elo que jamais se rompe, mesmo que a mãe não esteja. Esse elo, tão importante, chama-se amor.

Certa vez, minha filha trouxe para casa uma gatinha recém-nascida para mamar na minha gata, ainda com o cordão umbilical pendurado. O começo foi muito difícil, pois não conseguia mamar, precisou de mamadeira e muita dedicação, até que um dia pode pegar na teta e assim prosseguiu. Minha Desirée não a rejeitava, mas também não acolhia com entusiasmo até que começou a lamber, limpar, carregar pelo cangote e aconchegar a pequenina ao seu corpo. Foi daí em diante que a filhotinha teve seu desenvolvimento acelerado e logo se tornou uma gatinha muito bonita e ativa. O que aconteceu? O amor aconteceu! Esta energia que alimenta, acalma, energiza, dá segurança, impulsiona para a vida. Da mesma forma para nós, os humanos, o amor provoca efeito idêntico e quando a mãe falta, buscamos uma maneira de mantermos vivo dentro de nós seu amor, que assegura a vida e que experimentamos pela primeira vez em seu colo.

Ala Voloshyn

Ala Voloshyn

Psicóloga. Escritora. Blogueira. Contadora de Histórias. Mediadora de Conversa Filosófica. Blogs: alavoloshyn, livrosvivos - SoundCloud