Enquanto o ginasta e campeão olímpico Arthur Zanetti se prepara para uma histórica terceira medalha olímpica, cinco meses antes dos Jogos de Tóquio, a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude da cidade de São Caetano do Sul vem trocando farpas e dificultando a preparação do atleta com redução abusiva do salário tanto do medalhista, quanto do seu treinador Marcos Goto.
Zanetti se tornou um dos maiores ídolos do esporte nacional, levando há 23 anos as bandeiras do Brasil e de São Caetano do Sul aos pódios. Nascido na cidade, Arthur treina a modalidade desde os seus 7 anos, conquistando através de muito esforço, o único ouro da ginástica brasileira, nas Olímpiadas de Londres, em 2012 e a medalha de prata, no Rio de Janeiro, em 2016.
Durante a pandemia, em 2020, a Secretaria Municipal de Esporte de São Caetano cortou o salário de Zanetti e de Goto em 50%, agora, em 2021, a atual secretária Renata Trevelin – que assumiu a pasta em janeiro, nomeada pelo prefeito provisório Anacleto Campanella – defende o corte e confirma as reduções, como mostrou a reportagem do Globo Esporte, dia 23 de fevereiro, em que a redução não foi só no valor mensal, mas também no número de parcelas do pagamento (que caiu de 10 para 8). No ano passado, em razão da pandemia, a Prefeitura determinou teto salarial de R$ 5.000, pago em dez parcelas, exceção feita à última, que estava em aberto e que a administração pública se comprometeu a quitar o mais rápido possível, o que acarretou em diminuições nos vencimentos de ambos. Para 2021, houve aumento no teto, para R$ 7.000, mas divididos em oito parcelas.
O treinador Marcos Goto foi o mais afetado, perdendo 70% do que recebia, além de terem a estrutura do centro de ginástica, sem previsão de data de entrega. O Projeto do Centro de Treinamento Arthur Zanetti foi criado em 2013, com orçamento inicial de R$ 7,8 milhões e que já ultrapassou em média R$ 9 milhões e ainda não foi finalizado. Segundo Renata, o projeto deve atrasar ainda mais por conta de uma visita ao local no início de fevereiro em que foram identificados problemas na construção. Sem a estrutura desse centro de excelência, Zanetti treina atualmente no Ginásio da Agith, em terreno cedido pelo município.
Como citado na reportagem da Folha de S. Paulo, Renata Trevelin ressaltou que todos os cortes e reduções vêm desde 2020, pois esse dinheiro deve ser voltado à compra de vacinas. Afirma também, que antes, 45% do orçamento da ginástica era destinado ao treinador Marcos Goto e ao campeão Olímpico e alega que a equipe do ginasta faz parte da oposição política ao grupo que comanda a prefeitura.
Outro assunto que tomou conta das redes sociais nas últimas semanas foi o alto salário de Renata Trevelin, que recebeu no mês de janeiro R$ 41.166,66, conforme folha de pagamento da Prefeitura de São Caetano do Sul.
A atual gestão municipal vive incertezas, uma vez que José Auricchio Jr. (PSDB), que assumiu a prefeitura em 2016, foi reeleito no ano passado, mas tem a candidatura questionada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Anacleto Campanella Junior – (Cidadania), vereador e presidente da Câmara Municipal, está como interino no cargo. Um novo pleito deve acontecer neste ano.
Além do cenário político conturbado, a secretária de esporte, Renata Trevelin foi representada pelo Ministério Público por exercer outras funções ao mesmo tempo, como a da Secretaria de Esporte e o cargo de diretora de esportes e cultura do Colégio Eduardo Gomes, que é particular e mantido pelo Rotary.
Bem descontente com a Prefeitura de São Caetano, Zanetti desabafou em suas redes sociais com uma foto da conquista da medalha de ouro nos jogos olímpicos de Londres após afirmar que teve que ouvir de pessoas da administração que não havia feito nada por São Caetano. “Isso foi decepcionante, porque quem está presente no ginásio vê as crianças me dizendo que sou exemplo para elas e muitas dizem que começaram a treinar por minha causa. Isso é mais importante do que qualquer estrutura física que possa ser construída na cidade. Essa foto é da minha primeira conquista olímpica, onde representei o meu País, além de São Caetano. Apenas para refrescar a memória daqueles que disseram que não fiz nada pela cidade”, escreveu.
Goto afirmou ao Globo Esporte que apesar de tanta falta de sensibilidade por parte da Prefeitura, não sairá de São Caetano. Já Arthur Zanetti conclui a reportagem dizendo que por enquanto seus sonhos e objetivos são muito mais altos e que só querem que mantenham um esporte de alto rendimento e que quer representar mais uma vez não só o seu país, mas também a sua cidade.