Memórias do futebol mauaense: Laercio Timóteo da Silva

Daniel Alcarria

Daniel Alcarria

10 de Setembro

O futebol varzeano, seus times e jogadores, dirigentes, torcedores todos partícipes de sua existência e organização enquanto movimento de pessoas originou-se a partir de agrupamentos de trabalhadores para depois, com sua consequente popularização, ganhar espaços na sociedade brasileira. Nesse contexto, a maioria dos clubes e muitos jogadores foram durante tempos símbolos e orgulho de suas cidades, vilas, bairros e comunidades.

A opção pelo futebol realizou o sonho de alguns poucos afortunados, mas também alimentou o sonho de milhões de meninos e, mais recentemente de meninas, em se tornar um astro do esporte. Como na canção do Skank, ‘quem não sonhou em ser um jogador de futebol’? Como muitos garotos de sua época, o Lalá da Vila Vitória também viveu esse sonho.

Do time da escola para o grande Barão de Mauá

Laercio Timóteo da Silva, o Lála da Vila Vitória nasceu em 04 de abril de 1955 em Ribeirão Pires. Filho de Antônio Timóteo da Silva e de Maria José da Silva, mudou-se com a família para Mauá em 1962 vindo direto para a Vila Vitória. Num dos mais antigos loteamentos do município Lála se estabeleceu e com quase 60 anos no mesmo lugar, criou naquela comunidade vínculos que ainda hoje se fazem presentes.

Seu saudoso pai gostava muito de futebol e via com alegria os filhos dentro do campo. Praticamente todos seus irmãos jogaram (Carlos, Valter, Paulo, Valdir e Valmir), com destaque para o Paulo (apelido Canhoto) que inclusive chegou a atuar pelo São Paulo FC. Conforme o próprio Lála, o irmão Paulo Canhoto foi o responsável “por muita coisa que eu vivi no esporte, me orientou muito e agradeço demais a ele”.

Ao se estabelecer na Vila Vitória, foi estudar na Escola Odila Bento Mirarchi, onde também começou a jogar bola. Laércio relembra aos risos do diretor Seu Manoel que o teria repreendido por fazer firulas com a bola: “você é bom de bola mas faz muita frescura, cuidado que alguém vai te quebrar”, dizia. Graças a Deus, o receio do seu Manoel nunca se concretizou. Entre 1965 e 1966 fez parte da seleção da escola para a disputa dos jogos escolares.

As lembranças da infância e dos primeiros jogos de futebol estão atreladas aos campos e ruas de terra, onde os moleques se divertiam. Seu primeiro time a ser considerado ‘oficial’ foi o EC Barão de Mauá, onde começou a jogar em 1969 com 14 anos de idade.

Em busca de um sonho, mas com os pés no chão

Com o precoce falecimento do pai, Laercio e irmãos se uniram para ajudar a mãe. Com 16 anos Lála já trabalhava numa empresa em São Caetano, onde também jogou futebol. Em 1971 foi convidado a jogar no São José de São Caetano, sendo no mesmo ano convocado para a Seleção municipal desta cidade, pela qual disputou os Jogos Regionais em duas oportunidades. Ainda nas terras do Tijucussu jogou no time de aspirantes do Saad, onde também foi operário da empresa que emprestava o nome ao clube. Foi nessa época que Laercio sonhou em ser profissional.

O volante camisa número 5 Lála não se tornou profissional por um acaso da vida. Em certa oportunidade, quando trabalhava no almoxarifado da Companhia Saad, “fui convidado por um agente para ir ao Hercílio Luz, de Santa Catarina. Ele marcou comigo às 18:00 e esperei até às 18:30; fui embora chorando”, relata. Dois dias depois, ele voltou me dizendo que teria chegado no local combinado com quinze minutos de atraso. Passada a frustração, foi convidado para treinar no Palmeiras e na Portuguesa mas enfim, no futebol profissional não rolou.

Paralelo ao futebol continuou sua trajetória enquanto membro da classe trabalhadora na empresa Philips, indicado pelo amigo de time e de bairro (depois vereador) Ivan Stela, com o qual sempre teve um entrosamento muito legal. Nessa empresa Lála se aposentou.

Laercio: futebol, família e comunidade

Ainda hoje Laercio busca manter-se próximo dos jogos, sendo inclusive recentemente convidado a atuar pela equipe Sessentão do Juá, mais um clube em sua extensa galeria de agremiações. Em sua lista de clubes constam EC Barão de Mauá, São José (SCS), CA Vila Vitória, EC Avenida, Paulistinha, Vila Assis, Itapeva, Flor do Morro, Luso, Stilo e Independente FC. Jogou em times de empresas, na seleção de Mauá e na Seleção de São Caetano do Sul; foi campeão de 1984 com o CA Vila Vitória.

Casado com a Sra. Maria Ivanil, é pai do Daniel e da Jéssica e tem um neto (Matheus, de 4 anos); desde 1962 na Vila Vitória, Laercio é conhecido por sua presença na vida da sua comunidade, com efetiva participação nas atividades da Paróquia Nossa Senhora das Vitórias.

Além do futebol e da família, a outra paixão de Laercio Timóteo é a música de Roberto Carlos; adquiriu o gosto pelas músicas do rei ainda na época da escola, quando cantou na formatura. Ao cantar “A garota do baile”, Lála foi aplaudido pelos presentes, assim como foi durante anos nos campos de futebol da Vila Vitória, de Mauá e de toda região do ABC.

Laercio Timóteo da Silva com a faixa de campeão de 1969, quando conquistou o título com apenas 14 anos de idade; até gol nessa partida o clássico camisa 5 marcou. Data: 2021.