Quem não conhece a história de um pedaço de madeira falante, que aparece na oficina de mestre Cereja, que assustado, decide presentear o amigo Gepeto, que transforma aquele “presente de grego”, em uma marionete em forma de menino? E por tanto empenho e amor de Gepeto, aquele pedaço de pau, manifesta vida, que encanta seu criador, mas lhe traz muita dor de cabeça também!
Sei que você já identificou a história do boneco mentiroso! Mas Pinóquio é muito, mas muito mais que isto.
Esta fascinante história foi escrita por Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini (1826 – 1890), que nasceu em Florença, na Itália. Foi jornalista, crítico musical e dramaturgo. Começou a escrever literatura infantil em 1876. As Aventuras de Pinóquio, foram lançadas em 1881, em um jornal italiano direcionado às crianças, com o nome de Storia di un Burattino. A primeira edição em livro surgiu em 1883 e desde então, Pinóquio faz parte do imaginário de pessoas de várias gerações, como uma boa narrativa que se eterniza.
Mantenho na minha biblioteca três livros sobre Pinóquio, que descrevo nesta matéria:
Esta edição que trago em destaque é de 2002, tradução de Marina Colasanti, com ilustrações de Odilon Moraes.
Gosto muito desta versão, que se mantém fiel à criação de Collodi, o que valorizo bastante, pois penso que a autoria deva ser respeitada, sem interferências no texto original.
As ilustrações são de traço fino e delicado, o que faz uma composição bonita com a escrita. O trabalho editorial é delicadamente bem cuidado, o que valoriza a obra.
Tenho uma outra versão, bem mais antiga, que adquiri num Sebo, tradução de Monteiro Lobato, que data de 1979, em 12a. edição, com ilustrações de Ademir Pontes. Também se mantém fiel ao texto original, que comparei à tradução de Marina Colasanti e não percebi diferenças, fato que valorizo, pois a meu ver, são duas fontes confiáveis no que se refere ao conteúdo.
Pra terminar, numa edição mais recente, de 2018, tenho um reconto, o que parece bastante interessante, se não fosse a interferência autoral, onde percebe-se uma influência de valores. Se eu não conhecesse as Aventuras de Pinóquio, não compreenderia a narrativa no seu sentido original.
E este é um ponto que destaco, pois recontos de obras clássicas, consagradas ou atualizações de linguagem sempre são bem-vindos, no entanto, se geram distorções de sentido, com interpretação alheia ao original, merecem avaliação atenta. Portanto, sugiro a quem deseja ler um reconto, que conheça esse original, para conseguir identificar interferências no conteúdo, quando elas acontecem. Isto é, o poder de discernimento do leitor é fundamental na escolha do livro.
E o que existe de tão interessante e importante na obra de Collodi?
O autor traz a possibilidade de compreensão e reflexão sobre a evolução do ser humano, ou seja, como nos transformamos de fato em seres humanos com suas características essenciais. Ressalta a importância do desenvolvimento da consciência, que vai acontecendo no decorrer da história. Pinóquio se envolve com uma série de dificuldades e problemas por falta de consciência, e por isso se deixa conduzir pelo meio como uma marionete. A mentira que é tão destacada popularmente na narrativa, na verdade revela a ausência de responsabilidade de Pinóquio nas suas ações. Na sua inconsciência não percebe a repercussão dos seus atos e por isso se mantém refém de si mesmo na sua inconsequência.
A Marionete de madeira só se torna um menino humano quando adquire a tão importante consciência e esta, no meu entender, é a mensagem mais importante do livro. E por isso, As Aventuras de Pinóquio deve ser lido com profundo envolvimento com seu significado.