O Estado é uma organização criada pela sociedade por diferentes percursos. A estrutura estatal criada após a independência se manteve até a proclamação da Republica, em 1889. Depois disso, muitas transformações ocorreram, mas algumas característica permaneceram, tornando a estrutura estatal do Brasil a expressão da articulação do novo e do velho.
O Estado no Brasil sempre se sobrepôs à sociedade, como se fosse algo fora dela. Nós aprendemos desde cedo que tudo depende do Estado e que nada podemos fazer sem a presença dele, atribuindo-lhe a responsabilidade pelos problemas da sociedade e por suas soluções. Assim, se culpamos o Estado pelas dificuldades que enfrentamos, também dele esperamos socorro e proteção – o que vale tanto para os proprietários de terras, os empresários industriais e os banqueiros quanto para o restante da população.
Podemos dizer que houve no Brasil uma apropriação privada do que é público, ou seja, quem chegava ao poder tomava conta do público como se fosse seu.Dessa forma, a instituição que deveria proteger a maioria da população – o Estado – adotou como principio o favorecimento dos setores privados, que dominaram economicamente a sociedade.
O Estado beneficiava esses setores e também era beneficiado por eles, que lhe dava sustentação. Para o restante da sociedade, as políticas públicas foram sendo desenvolvidas na forma de “doação” ou dominação, em nome da tranquilidade social. Isso não significa que a população tenha sido sempre passiva. Ao contrario, muitas ações do Estado resultaram da pressão dos movimentos sociais no país.
A relação entre público e privado no Brasil também pode ser caracterizada como uma política do favor. Ela se desenvolveu desde o período colonial e apresenta-se ainda hoje como um dos suportes das relações entre os que têm o poder político e os que não têm o poder econômico.