Bom dia, compadre!

Alguns antropólogos procurando interpretar o Brasil, chegaram à conclusão de que este é o país do compadrio. Trata-se de uma prática antiga, de origem rural, mas que está no nosso inconsciente e que repetimos muitas vezes sem nos dar conta. É uma forma de relação social baseada em algum tipo de troca de favorecimentos pessoais. Peço para alguém que tenha condições de me ajudar de alguma maneira, para ser padrinho de meu filho ou filha. Em troca, veladamente, garanto fidelidade ao compadre. Recebo um favor e me sinto na obrigação de devolver, de alguma forma esse favor. Até mesmo no agradecimento isto se revela: dizemos muito obrigado. Ou seja, me sinto na obrigação de devolver o favor. Da vida do dia a dia esse tipo de relação se transfere para o campo político. Prometo votar em alguém desde que me favoreça em tal ou qual dificuldade em minha vida pessoal. Ou, faço favor a alguém esperando que esse favor seja retribuído com o voto em meu nome.

Essa relação de compadrio, ou de compromisso de favores mútuos, transforma-se em um tipo de corrupção na política. Em princípio, a política não deve ser algo referente a favorecimentos pessoais entre compadres ou de obrigação que alguém deva em relação ao outro. Deve ter como fundamento a busca da melhor forma de gerenciar a vida pública e não a vida privada. Gerenciar a vida pública depende de projetos para a sociedade que se quer construir. E projetos políticos estão relacionados com interesses e valores de classes sociais. Por exemplo, quais são os interesses da parcela mais rica da sociedade em determinada situação? O interesse básico é que a situação não mude, pois nela garantem continuar seus ganhos. Quais deveriam ser os interesses das populações empobrecidas? Mudar a situação social para que cheguem a ter melhores condições de vida. Entretanto, quem tem riquezas e influência têm melhores condições de oferecer favores a quem é pobre. E os pobres acabam votando nos ricos esperando essas migalhas de favores pessoais, mas, na verdade, votam contra si mesmos, pois favorecem a classe dos que não querem mudar.

Em grande parte, esse mecanismo funciona nas eleições para os cargos representativos, como vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. A partir daí ocorre a distorção de se votar em um candidato a cargo majoritário, como prefeito, governador ou presidente com um perfil de classe, por exemplo, representando a classe dos trabalhadores, mas nas eleições de vereadores ou deputados etc., votar em quem representa a classe rica, ou seja, votar, enquanto projeto de sociedade, contra si mesmo. Em muitos casos é isso que explica a impossibilidade do poder executivo colocar em prática seu projeto de sociedade, ficando refém do poder legislativo.

Estamos diante de eleições que ocorrerão em breve, como também de eleições daqui há dois anos, nas quais serão votadas pessoas tanto para cargos legislativos, como para cargos executivos, em diversos níveis. Por isso é fundamental que se rompa com o costume de colocar em primeiro lugar favores ou obrigações pessoais e votar em projetos de sociedade que correspondam seus interesses de classe. Portanto, na hora de escolher seus candidatos ou candidatas, pergunte-se: que interesse de classe ele ou ela representa? Você é da classe rica para votar em quem representa os ricos? Sim ou não?

Prof. Luiz Eduardo Prates
Sociólogo, Teólogo e Educador