Pablo Marçal e a Extrema Direita

Nas eleições municipais de São Paulo, estamos testemunhando a repetição de um fenômeno que, de maneira surpreendente, ainda choca a muitos. Após a vitória de Bolsonaro em 2018, parecia que não havia mais espaço para sermos surpreendidos por esse tipo de ação. No entanto, o filme se repete, e vemos os mesmos diagnósticos equivocados sobre as razões desse processo, tanto na grande mídia, quanto em boa parte da esquerda.

Primeiro, há um claro sentimento de cansaço com as estruturas e formas da democracia liberal no Brasil (o que não é exclusividade do nosso país). Depois de 40 anos de Nova República (que não resolveu nenhum problema estrutural do país), há uma percepção generalizada de contínua deterioração das condições de vida. Hoje, quase ninguém acredita que a vida de seus filhos será melhor do que a sua própria. Todos nós já conversamos com alguém que compartilha desse sentimento, que é um sentimento real.

Todo esse processo levou a um descrédito das regras e da elite política tradicional da democracia, fazendo com que muitas pessoas estejam abertas e desejem lideranças contestatórias, que se apresentem de forma contundente e não se coloquem de maneira respeitosa perante essa elite e essas regras. Há um sentimento “anti-sistema” que permeia toda a sociedade.

A questão central é que, até agora, no Brasil e em vários outros países, somente a extrema-direita está captando esse sentimento. Ela se apresenta como anti-sistema, e no Brasil, esse discurso assume várias facetas, como quando Bolsonaro critica o STF ou a Globo (que são setores da classe dominante nacional e, de fato, devem ser criticados). Obviamente, conhecemos os limites desse “anti-sistema” por parte da extrema-direita; na verdade, seu projeto é o aprofundamento da dependência, da regressão primário exportadora e da degradação da vida dos trabalhadores no nosso país.

Mas isso não significa que o povo brasileiro seja burro ou manipulado pelas redes sociais e fake news, como muitos afirmam. Essa interpretação é elitista e preguiçosa.

A questão central é que a extrema-direita está conseguindo dar expressão a esse sentimento, enquanto a esquerda se apresenta de maneira comportada como a defensora do status quo e das instituições, abrindo mão completamente da disputa ideológica.

Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público