O atual Prefeito de São Bernardo do Campo assumiu seu primeiro mandato no dia 1º de janeiro de 2017 e foi reeleito para segundo mandato até 31 de dezembro deste ano. São já quase oito anos. Nesse tempo todo, o sr. Prefeito desconheceu o Parque dos Meninos, no Bairro Rudge Ramos. Para não dizer que esqueceu completamente, tomou algumas medidas: desativou os sanitários públicos do Parque que haviam sido construídos no mandato do prefeito anterior e precarizou o serviço de acompanhamento da vigilância pela Guarda Municipal, fazendo o mínimo possível para o Parque continuar aberto. A mesma coisa ocorreu com o serviço de limpeza e conservação.
Agora, há poucos meses do final de seu mandato, o sr. Prefeito lembrou a existência do Parque e resolveu fazer uma revitalização do mesmo. Marcou um ato público para o dia 26 de maio e convocou a população. No local, discursos e elogios à administração. Ressalte-se que isso ocorreu poucos meses antes do início da campanha eleitoral para a nova administração municipal. Desde então o Parque está fechado à população em função das obras. Não me surpreenderei se poucos dias antes da eleição, o parque for ‘reinaugurado’, com um novo ato político.
Esse parque foi inaugurado na década de 1970 e é uma homenagem à colônia japonesa da região, especificamente à cidade-irmã de Tokuyama, no Japão. Por esse motivo, toda a caracterização do Parque faz referência à cultura nipônica. Trata-se de um local aprazível e de grade frequência pela população do bairro. Espera-se que a ‘revitalização’ não descaracterize demasiadamente a referência cultural japonesa (que aliás já ocorreu em parte pela substituição de pontes em madeira por pontes com piso de argamassa).
Apesar das estranhas coincidências das datas de revitalização com a campanha eleitoral, há que se dizer da importância desta iniciativa municipal, talvez fazendo uma mea-culpa pelo descaso de há tanto tempo.
Aludindo a isso, também podemos dizer que o sr. Prefeito, apesar do adiantado dos dias, tem ainda tempo hábil para se retratar de um verdadeiro crime contra a cultura nesse bairro e cidade, que foi o fechamento da Biblioteca Malba Tahan. Aproveitando-se da sensível diminuição da demanda no período da pandemia de Covid-19, totalmente justificável, a prefeitura fechou a Biblioteca e não mais a reabriu. Deve-se levar em conta que essa prática, de atentado contra a cultura, esteve aliada à onda de obscurantismo que assolou o país nos anos do último governo federal, em que centenas de outras bibliotecas públicas foram fechadas, como atesta pesquisa da USP disponível na internet. Por outro lado, diante disso não há como não lembrar de episódios que estavam na origem do nazismo, como o da queima de livros em praça pública na Alemanha, em 1933, poucos meses após a chegada ao poder de Adolfo Hitler. Será que o ódio à cultura, em nossa cidade, expressa algum eco a episódios como esses?
Ainda há tempo, sr. Prefeito, de reabrir a Biblioteca Malba Tahan.
Uma correção: No último artigo, de 24 de agosto, cometi o equívoco de referir ao julgamento de Adolf Eichmann por meio do filme Operação final. O filme correto é Hannah Arendt – Ideias que chocaram o mundo.
Prof. Luiz Eduardo Prates