Em recente entrevista, disse Jessé Souza: “A verdade tem um poder enorme. Ela é absolutamente revolucionária. O povo só vai ser redimido pela verdade”. Mahatma Gandhi casou-se com a verdade. Sob sua liderança firme, inquebrantável e persistente, baseada na verdade libertou a Índia do domínio da Inglaterra.
De onde vem essa denominação esquerda e direita? Vem da França quando, na instalação da Assembleia Constituinte de 1789, que deu início à Revolução Francesa, do lado esquerdo sentaram os trabalhadores empobrecidos, explorados, desvalorizados, oprimidos. Do outro lado, à direita, sentaram os nobres, os aristocratas, os ricos, os exploradores. Desde então, quem se identifica com a parcela empobrecida, oprimida e humilhada da população é chamado de esquerda.
No nosso mundo há muitas vozes, um turbilhão delas, mesclando meias verdades, fragmentos de verdades, mentiras, falsidades, safadezas. Hoje esse emaranhado de vozes é amplificado por meios de comunicação, por canais eletrônicos, por uma infinidade de recursos. A direita, habilmente, mistura nesse caldeirão preceitos e preconceitos morais e raciais, costumes, culturas diversas, conservadorismo, misoginia, fundamentalismos religiosos e outros. Para que? Para atordoar, desorientar, desmobilizar, individualizar as pessoas. O objetivo? Que não haja transformação. Que a voz clara, límpida, cristalina da verdade não seja ouvida. Que tudo continue “como sempre foi”. Ao ponto que muitos hoje, a maioria talvez, dos trabalhadores e trabalhadoras, dos explorados e exploradas, da parcela oprimida e humilhada, chega a se dizer de direita. E a esquerda fica com o grito trancado na garganta e não consegue expressar sua voz, por medo ou por conveniência. Ou por não conseguir interpretar as vozes que ressoam no ar.
Um dia, porém, a voz da verdade começará a se ouvida. E essa voz terá, como sempre teve, a força da organização e da transformação. Que verdade será essa? A verdade de que toda a riqueza que existe é fruto do trabalho humano, como disse o Papa Leão XIII no final do século XIX, na Encíclica Rerum Novarum: “O trabalho humano é tão admirável que se pode afirmar, sem sombra de erro, que é a fonte única da riqueza das nações”. A verdade de que a maior parte da riqueza, que é produzida pelos trabalhadores e trabalhadoras não fica para eles e elas. É expropriada e acumulada pela “nobreza e a aristocracia de hoje”, os grandes capitais, os grandes capitalistas, os que subjugam, humilham, desqualificam o povo para que ele não se rebele. A verdade que só uma distribuição justa e equitativa das riquezas produzidas poderá conferir dignidade humana em termo de vida, habitação, saúde, educação, cultura, segurança, trabalho digno e justamente remunerado para todos e todas. A verdade que a paz somente poderá ser construída sobre os alicerces da justiça.
Alguém poderá dizer: “Mas hoje riqueza produz riqueza, dinheiro produz dinheiro”. Ilusão. Sem o trabalho humano que a sustente essa riqueza, ora ou outra, poderá se esfumaçar no ár. São as crises do capitalismo. “Mas hoje o trabalho é difuso, é de todos e grande parte é feito pelas tecnologias modernas”. Sem trabalho humano na base de tudo, não há transformação, não há produção, não há tecnologia. “Mas o trabalho de quem detém o conhecimento e o gerenciamento é altamente e justamente remunerado”. Mas, ao menos, ele ou ela come. E quem produz o alimento e possibilita toda a cadeia produtiva para que o alimento chegue à sua mesa é igualmente remunerado?
Um dia, a verdade colocada em ação, terá a força irresistível da transformação. Quem poderá proclamá-la? Somente os trabalhadores empobrecidos, explorados, desvalorizados, oprimidos, humilhados e quem com eles se identificar e se dispuser a sofrer suas dores e caminhos de mudanças. Seu persistente, firme e incansável trabalho de conscientização e organização. Essa verdade, assim proclamada, poderá fazer a roda da história girar no sentido contrário ao que agora se verifica. É uma utopia. É uma esperança. Mas um novo mundo possível poderá começar a acontecer.
Enquanto houver trabalhadores empobrecidos, explorados, desvalorizados, oprimidos, haverá esquerda. E só ela poderá proclamar a voz clara, límpida, cristalina da verdade.
Prof. Luiz Eduardo Prates
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