Quando tomamos uma embalagem, seja um pacote, um frasco, um vidro, normalmente temos um rótulo e o conteúdo. O rótulo se refere ao que está dentro da embalagem. Porém as possibilidades de como se apresenta o conteúdo são diversas. Nem sempre, quando se abre o invólucro, o que tem dentro corresponde ao que pensamos que seria o conteúdo.
Nas relações sociais é assim também. A realidade social aparece para nós como um rótulo, como um enunciado de como é a sociedade. Entretanto, quando aprofundamos a percepção da sociedade, daquilo que determina que ela seja como é, nem sempre esse conteúdo corresponde ao rótulo que é exposto ou propagandeado. Mais ainda, há, na maioria das vezes, intencionalidades que fazem que se fixe a atenção a determinados rótulos, para que o verdadeiro conteúdo fique na sombra.
É assim, por exemplo, quando se enaltece na sociedade os valores da ordem, da harmonia, de uma falsa igualdade, naturalizando tudo isso como se sempre fosse e sempre devesse continuar desta forma. Isso, na maioria das vezes é o rótulo, que quer esconder determinadas coisas. Pensando na sociedade brasileira, podemos perguntar: que coisas são essas que se quer esconder? Qual é o verdadeiro conteúdo dessa sociedade?
Uma análise mais profunda e arguta vai descobrir que esta é uma sociedade profundamente desigual. Especialmente em relação à distribuição da riqueza, em que uma mínima parcela, de não mais que 10% da população, acumula mais de 50% das riquezas e das terras, enquanto cerca de 60% da população vive na pobreza ou na miséria. Quando batalhamos por manter uma sociedade ordeira e harmoniosa, estamos, na verdade, defendendo que esta sociedade indecentemente injusta continue como sempre foi e como os donos das riquezas querem que se mantenha.
Cresce muito na sociedade a defesa de valores conservadores de toda ordem, bem como a grita por mais segurança. São pautas da direita e da extrema direita e estão em alta. Na verdade, é a defesa dos rótulos, para não se mexer no conteúdo. Entretanto, quem é prejudicado é principalmente o povo pobre e a classe média que, ao não termos mudanças estruturais no país, perpetuam sua situação de pobreza e miséria.
A lei e a ordem são importantes, é verdade. Mas uma sociedade verdadeiramente segura só poderá vir com a repartição de bens e riquezas e com oportunidades para todos e todas.
Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com