A tentação do autoritarismo (1)

Existe um autoritarismo que habita todos e todas nós. Porém, na sociedade brasileira, ele é atenuado, mas ainda é dominante em grande parte dela.

O autoritarismo vem do desenvolvimento humano desde a infância. Ele remonta à fase egóica em que a criança se sente o centro do mundo e pensa que o que ela acha e quer deve se tornar realidade. É a fase das birras. Muitas pessoas adultas, por sua vez, despejam seu autoritarismo, tratando as crianças com violência. E o ciclo vai se perpetuando.

Com o passar do tempo e com o convívio social, essa pulsão de determinar tudo passa, em se tratando da maioria das pessoas. Porém, para muitas, ela se mantém, ora disfarçada, ora explícita. E determina como as pessoas com esse traço de personalidade se relacionam com as demais.

O autoritarismo, na política, é derivado desse desenvolvimento doentio do ser humano. Mas a pessoa ao saber que não tem condições de mandar em todas as outras, transfere seu ímpeto autoritário a lideranças que a representam e que vão fazer com que suas vontades se realizem.

É daí que se derivam a ordem: todos devem fazer conforme eu ordenar; o discurso único: só está certo tal discurso ou maneira de ver as coisas; e a violência: quem não obedece deve ser punido.

É por isso que o autoritarismo não suporta a ciência nem a arte. Quanto à ciência, vemos os negacionismos de toda a sorte. O autoritarismo não a aceita, porque ela teima em demonstrar que tal ou qual coisa não é assim como se diz. Quanto à arte, ela deriva da criatividade. E a criatividade inventa maneiras diferentes e inovadoras de ver as coisas e confronta a mesmice.

Só quem, em um desenvolvimento humano sadio, aprende a lidar com suas tendências autoritárias e desenvolve maneiras saudáveis de convivência, aceita viver em democracia. Ou seja, aceita o confronto das ideias, a discussão dos pontos de vista, as formas diferentes de ver e encaminhar as questões sociais, a submissão à determinação da maioria.

Dois eventos, nas próximas semanas, nos dão a oportunidade de refletir e talvez de lidar melhor com o autoritarismo embutido em nós. A apresentação da denúncia do Ministério Público ao Supremo Tribunal Federal relativa aos atos de 08 de janeiro de 2023 e o antianiversário do golpe de 1° de abril de 1964, que alguns ainda comemoram (aniversário, em princípio, é feliz).

SEM ANISTIA!

Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com