porque a sexta é o dia da perda irreversível. da morte. do fim. e não é só a morte física de alguém, é o símbolo de tudo aquilo que a gente não pode evitar. é o dia em que jesus é traído, humilhado, crucificado — e o que mais mexe com a gente nem é o sofrimento em si, mas a sensação de abandono. de silêncio de deus. de impotência diante da injustiça.
a sexta-feira santa é o momento em que tudo desmorona. e todo mundo já passou por uma sexta dessas. aquele dia em que você leva uma notícia que te derruba, perde alguém que ama, sente que tudo pelo qual lutou escapou por entre os dedos. por isso ela pesa tanto: porque lembra que a vida, às vezes, dói demais — e que não há atalhos para fugir disso.
mas aí vem o sábado. o dia menos falado da semana santa — mas talvez o mais parecido com a vida real. o sábado é a espera. é o tempo da dúvida. deus ainda está em silêncio, e nada parece fazer sentido. o sábado é quando a gente segue em frente meio sem saber por quê. é quando você acorda, se arrasta, cumpre o dia, mas o coração ainda está quebrado. é o dia que a gente vive entre o que perdeu e o que ainda não chegou.
e então, no tempo certo, chega o domingo. não como uma solução mágica. não como uma resposta imediata. mas como uma brisa leve. uma certeza serena. o domingo é o reencontro com a fé. é quando a dor não some, mas se transforma. é quando a gente percebe que sobreviveu à sexta, atravessou o sábado e agora pode recomeçar.
o domingo da ressurreição só tem sentido por causa do que aconteceu antes. sem a sexta, seria só um dia comum. com a sexta, ele vira milagre.
e é isso que a semana santa me lembra: que a dor faz parte, o silêncio também, mas o recomeço é sempre possível. sempre. e é nele que mora a beleza e a fé.
enrico pierro
@enricopierroofc (Instagram, TikTok, X e Threads) e em seu blog: https://enricopierro.com.br/
escreve semanalmente para mais de 40 jornais e portais pelo brasil. seus textos também estão disponíveis nas redes sociais, onde compartilha reflexões sobre o cotidiano, sentimentos e humanidade.