Trabalho e empreendedorismo

O filósofo e senador italiano Norberto Bobbio (1909-2004) advertiu que existe uma contradição entre liberdade e segurança. Quanto maior segurança menor liberdade. E vice-versa. Para se obter segurança ergue-se muros e grades. E a liberdade é tolhida.

Esse tema está presente hoje nas relações de trabalho. As novas gerações, em nome da liberdade, não querem mais se submeter a empregos formais. O hit do momento é empreendedorismo. CLT virou palavrão com que muitos adolescentes se agridem. Duas observações a respeito: isso só é possível devido às condições objetivas da produção oferecidas pelo desenvolvimento tecnológico cada vez mais voltada ao uso de recursos robotizados, dispensando a mão de obra humana efetiva. O trabalho torna-se volátil pelos meios eletrônicos e de internet ou na área de serviços, ou seja, não na produção, mas na reprodução do capital. O outro fator é que existe forte investimento da direita em propagar essa ‘novidade’. Qual o objetivo? A fragmentação e atomização cada vez maior dos trabalhadores. Dividir para governar.

O ABC paulista tornou-se um polo econômico a partir de outra realidade no mundo do trabalho. A industrialização. Possibilitada pelos governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek, a indústria atraiu para essa região levas imensas de população, no ciclo das décadas 1950 a 1980, aproximadamente. Posteriormente, pela conjuntura da divisão internacional do trabalho, entrou em declínio.

A grande indústria, além de possibilitar uma teia imensa de empregos seja no trabalho direto, seja na produção de insumos ou no comércio e serviços, possibilitou a organização da classe trabalhadora que produziu uma central sindical fortíssima, o maior partido de esquerda do mundo na voz de vários analistas, e um ciclo político com a eleição por três vezes de seu líder de maior expressão.

Interessante notar que, com garantias trabalhistas da CLT e com uma economia altamente dinâmica, segurança não era um problema tão crucial como agora. Evidentemente o crime, a contravenção etc. sempre houve. Porém não em níveis exacerbados como hoje.

Maior liberdade, menos empregos formais celetizados, maior insegurança. A industrialização entrou em declínio. O capital se reproduz e cria enormes concentrações de riqueza apenas nas transações financeiras, abandonando o setor produtivo. E o Brasil reassume a ‘vocação’ de fornecer ao mundo produtos primários, as chamadas commodities.

Outros tempos, necessidade de outras soluções. Será empreendedorismo?

Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com