Alfabetização política

Estamos em tempo de lembrar o poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), compositor do famoso poema que inicia dizendo: “O pior analfabeto é o analfabeto político”. E dá alguns exemplos das consequências desse analfabetismo.

Em seu poema, muito suscito, Brecht não dá conta de algo que se pode observar no Brasil hoje, mas que não deixa de fazer eco ao que ele diz: por não querer se envolver em política vota-se sem pensar nas consequências do voto. Ou ainda, por ter optado por um lado na disputa política, vota-se impulsionado simplesmente pelo sentimento que se abraçou, independentemente da realidade concreta do que está em disputa. Pior ainda, devido a esse mesmo sentimento, vota-se em pessoas que racionalmente, deliberadamente, tomam decisões contrárias aos interesses de quem vota e aos da maioria da população.

Na semana passada ocorreram na Câmara de Deputados votações em que se decidia a destinação de verbas federais e questões relacionadas ao orçamento público.

Venceram posições que respaldam os grandes capitalistas e o sistema financeiro e que são inegavelmente contrárias à população, especialmente à porção mais empobrecida. Procurava-se assim forçar o governo a cortar verbas destinadas aos programas sociais, como os relacionados à saúde, à habitação e ao atendimento dos mais necessitados. A votação do IOF deixou isso escancarado. O sentido dessa votação foi enfraquecer o governo nas próximas disputas eleitorais. Castiga-se a população empobrecida com vistas a vitórias eleitorais futuras. Ao mesmo tempo, elevou-se o número de deputados na Câmara Federal, acarretando mais gastos ao orçamento.

Presumivelmente, se tivéssemos consciência do que está em jogo no cenário político, escolheríamos melhor na hora de votar em nossos representantes na Câmara Federal e no Senado. Deixaríamos de votar nos grandes ricos, detentores de mais de 50% das riquezas do país e que ganham milhões por mês, e nos seus lacaios senadores e deputados, e votaríamos em pessoas que de fato representassem o povo.

Precisamos, como população, a alfabetização política. Não nos deixarmos levar pela cantilena dos grandes meios de comunicação e das redes sociais, dominadas pelo grande capital e voltadas diuturnamente a defender esses interesses. Como, também, superarmos o preconceito incutido pela mídia, que condena quem já foi inocentado pelo judiciário devido a um julgamento viciado. E votarmos em quem efetivamente represente nossos interesses de classe média e povo trabalhador.

Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com