São Caetano do Sul 148 anos: contos da cidade perdidos no tempo ou pouco conhecidos

Pesquisa e redação de Humberto Domingos Pastore, jornalista, memorialista e membro da Academia de Letras da Grande São Paulo

O pequeno vilarejo São Caetano

Contar história, com “h”, ou seja, recordar o que poucos conhecem sobre o passado de São Caetano do Sul, essa foi a proposta, com sentimento de missão que determinamos cumprir. Nas páginas desta edição especial os leitores vão poder comprovar se a ação foi fielmente realizada.
Acreditamos que todos também vão ficar encantados com o resultado.

O que pouca gente sabe é que muito antes da chegada dos colonos italianos, ainda no século XVIII, já existia um vilarejo com o nome de São Caetano. Isso mesmo, desde 1.747 existia tanto a Fazenda de São Caetano, como um pequeno povoado batizado de São Caetano.

Ela ficava onde hoje está a Rua Nossa Senhora da Candelária, no hoje, Bairro Oswaldo Cruz. Está tudo registrado no censo efetuado no ano de 1.765 indicando que na pequena vila moravam 11 famílias, que no total chegava a 37 membros. Além destes, também 23 eram escravos (sendo, 15 índios e 8 negros). Os índios eram das tribos Paresí e Borôro, ambas oriundas do Mato Grosso.

Sobre a Fazenda dos Beneditinos ela produzia e vendia telhas, tijolos e louças. Tinha também gado e o cultivo de hortas. A fazenda deixou de existir no dia 5 de julho de 1.877 por ordem do Império que a desapropriou para instalar o Núcleo Colonial que abrigaria as famílias italianas que estavam chegando.

A fazenda, apesar de pertencer a uma Ordem Religiosa tinha mão de obra escrava. Inicialmente indígenas, e depois escravos negros.

Muitos destes negros foram enterrados no terreno das Indústrias Matarazzo, em torno de onde está a Paróquia do Bairro da Fundação.


O órfão, a dívida e os beneditinos

Na rústica fazenda do espanhol Diogo Sanches e sua esposa, a portuguesa Isabel de Félix nasceu o menino Miguel, o primeiro nascimento ocorrido onde está hoje o Bairro da Fundação. Pois bem, quando seus pais morreram o pequeno órfão ficou aos cuidados de Mônica, uma das escravas indígenas que ali trabalhava. Miguel veio falecer com 24 anos, ainda solteiro, no ano de 1.620.

Quanto a fazenda, parte destas terras do espanhol Diogo Sanches foi adquirida, após sua morte, por André Escudeiro por seis mil réis em troca de uma dívida que a família tinha com ele.

Sabe-se também que no ano de 1.630, o espaço da fazenda estava em nome de Duarte Machado e sua esposa Joana Sobrinha. Ambos por pura generosidade fizeram a doação destas terras para a Ordem de São Bento (Monges Beneditinos).

Isso aconteceu no dia 19 de setembro de 1.631.


A vila que sofria nas mãos de Santo André

Quanto São Caetano era vila de Santo André, nos anos 1940, enfrentava problemas urbanos como a falta de pavimentação, de transporte público, de canalização de esgotos… Só duas linhas de ônibus iam até a Vila Alpina e Califórnia, passando por ruas esburacadas e dominadas pelo mau cheiro das águas podres das valetas.

O povo pedia que as ruas fossem calçadas com paralelepípedos. A única passagem pela divisa de São Caetano para São Paulo era através da Rua Ibitirama, local muito arriscado, por ser um trecho todo ocupado pelo pântano. Os imigrantes italianos pedião ao padre que benzesse este caminho.

Tudo se modificou com o Plebiscito de 24 de outubro de 1948 que criou o município. A lei 66, de 13 de dezembro de 1949, autorizava o convênio entre as prefeituras de São Caetano do Sul e de São Paulo para a construção de uma ponte sobre o Rio Tamanduateí, ligando a Avenida Municipal, na Vila Lucinda, com a Avenida Dr. Giacaglini, na capital.

Ela foi inaugurada em janeiro de 1951, numa festa com presença do governador Adhemar de Barros e do prefeito Ângelo Raphael Pellegrino. Em 1952, através da lei 229, de 3 de maio, a Prefeitura era autorizada a fazer acordos com São Paulo para a construção de uma segunda ponte, agora interligando as ruas Ibitirama e Mariano Pamplona.


A rua que homenageia uma pessoa que nunca existiu e ninguém mudou

Rua Serafim Constantino a rua da Estação de São Caetano ou melhor Constantino Serafini?

Pode parecer inacreditável, mas foi isso que aconteceu. A via que começa na Rua Amazonas, bem ali no Centro de São Caetano do Sul, e que percorre toda a lateral da Estação Ferroviária homenageia uma pessoa que nunca existiu.

Estamos falando da Rua Serafim Constantino. Este cidadão ganhou nome de rua sem nunca ter existido. Quem existiu de fato foi Constantino Serafini, que como a maioria dos italianos, tinha o costume de assinar colocando o sobrenome na frente do nome.

O cidadão que “não ganhou nome de rua”, não só teve o nome modificado, como também ganhou um Serafim no lugar de Serafini. As informações foram colhidas da página 198 do livro Subúrbio, do professor José de Souza Martins.

Esta história tem mais de cem anos e curiosamente nunca foi corrigida. O italiano que deveria ganhar nome de rua era engenheiro e atuava como gerente da fábrica de sabão e graxas Pamplona, Sobrinho & Cia. Ele era muito influente nesse núcleo colonial. Tanto que no dia 15 de novembro de 1908 foi eleito presidente da centenária União Operária, que igual a Príncipe de Napoli eram associações prestadoras de mútuo socorro.


Você já ouviu o Hino Autonomista?

Acreditamos que bem poucas pessoas conhecem este Hino – nem mesmo as famílias dos Autonomistas

Composto no dia 7 de setembro de 1953, o Hino Autonomista tem como autor da Letra e da Música, o Dr. Arnaldo Vianna, que trabalhou por dezenas de anos como dentista na Escola Senador Flaquer, no Bairro da Fundação. Professor e Divulgador da Língua Esperanto, morava no Ipiranga.

Aqui a sua letra:

São Caetano do Sul teu valor
Deverá ser cantado com ardor
Pelo teu nobre povo generoso
Forte, Bravo, Culto e Operoso

Pois que sendo em tamanho o menor
És em tudo quase sempre o maior
Foste obra de heroico imigrante
Que por ti deixou a pátria distante

Teu progresso é algo sensacional
Tua pujança é fato excepcional
E autônomo terá mais ascensão
E o respeito de toda a nação

Estribilho

São Caetano do Sul, ei avante
Teu porvir será sempre brilhante


Surge um Bandeirante na história de São Caetano

O restante das terras de Tijucuçu acabou indo parar nas mãos de Manoel Temudo que por sua vez vendeu por 75 mil e quinhentos réis ao Bandeirante Fernão Dias Paes Leme, isso mesmo, o famoso Caçador de Esmeraldas. Consta que ele comprou somente com o objetivo de doar tudo aos monges beneditinos do Mosteiro de São Bento.

Em troca desta doação, ao morrer poderia ser enterrado na capela-mor do Mosteiro. Por sinal, este Bandeirante, e sua esposa, ainda hoje estão lá enterrados. A doação das terras se deu no dia 17 de janeiro de 1.650.

Naquele tempo era comum os novos donos do terreno ao tomar posse pegarem um punhado de terra e alguns galhetos de árvores, e gritarem bem alto: Posse, Posse, Posse. E foi isso que fizeram alguns beneditinos quando chegaram onde hoje está o Bairro da Fundação.

Era o ano de 1.717, e os monges criaram então a Fazenda São Caetano. Ali construíram uma capela onde colocaram a imagem desse santo. Nas imediações puseram para funcionar a olaria. Ali também criavam animais, e tinham até uma pequena plantação. Eles levavam tudo o que era ali produzido por meio de embarcação usando o rio Tamanduateí até o centro de São Paulo, onde subiam tudo por onde hoje existe a Ladeira Porto Geral a fim de ser consumido pelos monges que moravam no Mosteiro que ali existia.


São Caetano foi vila de São Paulo, de São Bernardo e de Santo André

A pequena vila de São Caetano, pertencente ao município de São Bernardo vai se transformando para em breve se tornar também uma cidade. A indústria Pamplona foi a primeira fábrica a se instalar, vindo a seguir em 1.890, a fábrica de Formicida Paulista de Constantino Serafini, grafado erroneamente em muitos lugares como Serafim Constantino.

A primeira entidade de caráter social e filantrópico foi a Sociedade Beneficente “Principi di Napoli”, fundada em 1.891, e a segunda a ser constituída foi a União Operária de São Caetano.

Data de 1.928 a primeira campanha em prol da Autonomia da então vila, sendo que nessa ocasião, o movimento não saiu vitorioso. Em 1938 quando Santo André substituiu São Bernardo como sede do Município, São Caetano passou a se constituir como Segunda Zona do Distrito, para em 1.944, ficar reduzida a Segundo Subdistrito de Santo André, enquanto São Bernardo passava a novamente ser município autônomo.

O parque industrial do vilarejo encontrou no núcleo de imigrantes italianos e seus descendentes a primeira fonte de mão de obra adequada as suas necessidades. Mais tarde, essas vilas operárias que se formavam em torno das indústrias estabelecidas na área suburbana de São Caetano, atraíram os primeiros contingentes nordestinos.


O cinema e o matadouro chegam na vila

A Vila São Caetano do início do século passado ia ganhando aspectos de uma comunidade residencial de fato. Pela Lei n° 123 de 14 de agosto de 1.912, era dada a concessão e privilégio a Mariano Pamplona e outros, para o serviço de água e esgotos. E também era concedido o privilégio à Companhia de Melhoramentos de São Caetano para explorar por 30 anos os serviços de água e esgotos, assim como ao Sr. Luiz Martinelli o privilégio de explorar um matadouro pelo espaço de 20 anos.

1922 – foi inaugurado o primeiro cinema na cidade, no Bairro da Fundação

Em 1.922 acontecia a inauguração do Cinema Central, na Rua Perrella, n° 34, no hoje, Bairro da Fundação. Tinha a capacidade para 900 pessoas.

Sob a orientação dos Padres Estigmatinos no dia 31 de março de 1.924 ocorre a elevação canônica da antiga Capela na Paróquia São Caetano com sede no hoje, Bairro da Fundação.

No dia 1º de abril de 1.926 foi instalada na Vila São Caetano as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. E no dia 1º de outubro de 1.929 era instada a General Motor do Brasil.

Antes disso no dia 15 de janeiro de 1.928 surge o São Caetano Jornal e é realizado um movimento pela Autonomia para se separar de São Bernardo, o qual, infelizmente, não chegou a um resultado positivo, como já sabemos.


Só em 1924 a Vila São Caetano ganhou seu primeiro Vigário

Pela Lei n° 32 de março de 1.883, cinco anos após a chegada dos colonos italianos, foram criados pelo Governo Provincial duas escolas públicas de primeiras letras no Núcleo Colonial de São Caetano onde moraram 251 colonos, sendo que 134 do sexo masculino, 117 do sexo feminino. Informa o relatório de estatística de 1.877 que, 112 indivíduos eram analfabetos e todos os 251 católicos.

Sabe-se que, segundo anotações de próprio punho de D. Pedro II, o imperador esteve por 60 minutos nesse núcleo colonial. Foi no dia 28 de setembro de 1.878, um sábado, no horário das 15h45 às 16h45.

A história político-administrativa de São Caetano acompanhou em parte seu desenvolvimento econômico. Em 1.901, seu território, que até então pertencia ao Município de São Paulo, foi anexado ao recém-criado Município de São Bernardo.

Em 1.905, São Caetano era elevado a Distrito Fiscal. A fixação das primeiras indústrias coincidiu com a sua elevação a Distrito de Paz, em 1.916.

João Domingos Perrella foi eleito em 1.920, vereador pela Vila São Caetano para compor a Câmara de São Bernardo. É que naquele momento, o lugarejo pertencia a hoje cidade vizinha.

Em 1.924, o Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, dava ao núcleo a sua primeira Paróquia e seu primeiro Vigário que foi o Padre José Tondin.


Pelo fim das porteiras da Estrada de Ferro

O Viaduto dos Autonomistas, localizado em cima da Estação Rodoviária foi inaugurado em 28 de julho de 1954 pelo prefeito da época Anacleto Campanella, a pedido do vereador Giordano Vincenzi e projetada pelo desenhista Giorgio Cappelli.

A edificação visou substituir as porteiras da estrada de ferro.

Viaduto dos Autonomistas construído durante a administração do prefeito Anacleto Campanella em seu primeiro mandato em 1954

O Bairro da Fundação foi se transformando. Pela Lei 522, de 9 de março de 1.955, autorizava a Prefeitura de São Caetano do Sul a adquirir, por doação, do loteador Roberto Giorgi, área necessária para o alargamento da Rua Ceará. Era uma área de 1.725 m².

A antiga Rua Taba, pela Lei 314 de 7 de março de 1.953 se transformou na Rua Antonio Barile, em homenagem a um morador. A Rua Projetada, que ficava entre as ruas Araraquara, Pedro Alexandrino e Maximiliano Lorenzini, segundo a Lei 318, de 19 de março de 1.953, ganhou o nome de outro munícipe: Benedito Moretti.

A outrora Praça Lucinda ganhou o nome de Praça Frei Caneca, segundo a Lei 479, de 22 de setembro de 1.954. Por meio da Lei 669 de 11 de março de 1.957, Atílio Santarelli passou a ser o nome da praça entre a Rua Herculano de Freitas e Rodrigues Alves, e a antiga Rua Projetada, entre as ruas Maximiliano Lorenzini e Coligni, segundo a Lei 1215, de 19 de novembro de 1.963 passou a ter o nome de Fausto Luiz Pina.


Ei qual a sua cidade? Moro em Santo Alberto!

Essa frase fictícia poderia ser bem real. Afinal por bem pouco esse era o santo que poderia ter dado o nome para a nossa São Caetano do Sul. Essa deliciosa história era muito contada pelo filho do primeiro presidente da Câmara Municipal, Accácio Novaes, o advogado Cláudio Manoel Novaes, um eterno apaixonado pela história da cidade.

Cláudio era um querido amigo, e sempre que tínhamos chance nos encontrávamos para relembrar fatos antigos de São Caetano do Sul. Autor do livro Nostalgia, também escrevia para os jornais relembrando a São Caetano de outrora.

Ele contava, e com muita convicção, que em conversa com alguns imigrantes italianos ficou sabendo que as famílias que chegaram em 1877 depois de arrancar o mato que tomava conta da antiga capela construída pelos monges beneditos depararam no altar com a estátua de um santo que imaginaram ser uma imagem de São Caetano, mas que na verdade era a imagem de Santo Alberto.

Desta forma se a devoção fosse dedicada para a verdadeira imagem, teriam dado o nome de Núcleo Colonial Santo Alberto.

E ai, quando te perguntassem: onde você mora? Você diria: Eu moro em Santo Alberto!

Sabem o que mais? A denominação “Grande ABC” jamais teria existido.

Afinal Grande AAB não tem graça nenhuma…


Por muito pouco São Caetano não nascia falando inglês

Os italianos chegaram ao Núcleo Colonial Fazenda Tijucuçu de São Caetano no ano de 1877, mas tudo poderia ter sido diferente, se o solo deste chão não fosse ruim para plantar algodão. Isso por que em 1866, onze anos antes dos italianos, William Hutchinson Norris acompanhado de seu filho Robert Norris saíram do Estado da Geórgia nos Estados Unidos, desembarcaram em Santos e subiram a Serra do Mar a procura de terras onde pudessem instalar as famílias norte-americanas sulistas que tinham perdido o embate na guerra civil norte-americana.

O governo brasileiro ofereceu as terras onde está a cidade de São Caetano, que foi recusado porque o solo com muito barro não servia para plantar algodão. Pai e filho também recusaram o Brás e Campinas. Acabaram se fixando às margens do Ribeirão Quilombo, na cidade de Santa Bárbara d’O este, e também onde hoje é o centro do município de Americana.

Na época, o imperador Dom Pedro II estava às voltas com a Guerra do Paraguai e tinha interesse em atrair estrangeiros para trabalhar no cultivo do algodão e implantar novas técnicas agrícolas. Em anúncios publicados nos antigos jornais da Confederação nos Estados Unidos, Dom Pedro II prometia aos rebeldes “um país selvagem e abundante, pronto para assentamentos e favorável à escravidão”. Num gesto de boa vontade, o Brasil oferecia transporte subsidiado e terras férteis a apenas 22 centavos por acre. Por muito pouco então, São Caetano não nascia falando inglês.


Autonomistas chegam ao poder em São Caetano do Sul

O município de São Caetano do Sul foi instalado no dia 1º de janeiro de 1949, em solenidade presidida por Carlos Pezzolo, funcionário da Prefeitura de Santo André, que representou o prefeito Antonio Flaquer, que se mostrava assim, ainda contrário a autonomia.

A primeira campanha eleitoral para a prefeitura teve dois candidatos. Do lado dos autonomistas Ângelo Raphael Pellegrino, que concorreu pela coligação de seis partidos e José Luiz Flaquer Neto, pelo PTB, sobrinho do prefeito de Santo André na época.

Na eleição de 13 de março de 1949 os eleitores de São Caetano do Sul deram a vitória para Pellegrino, por 4.094 votos contra 1.017 dados ao adversário Flaquer Neto. Diversos autonomistas foram eleitos vereadores, entre eles uma mulher, Olga Montanari de Melo, o futuro prefeito, Oswaldo Massei e o vice-prefeito, Jacob João Lorenzini. O autonomista Antonio Dardis Neto foi o vereador mais votado naquele ano com 299 votos. O prefeito Pellegrino e os 21 primeiros vereadores do novo município de São Caetano tomaram posse em 3 de abril de 1949.

O apêndice ‘do Sul’ acrescentado ao nome São Caetano foi para diferenciar de um município com o mesmo nome que já existia no Estado de Pernambuco.

Foram apresentadas duas propostas de novo nome aos membros da Sociedade Amigos de São Caetano. Ganhou do Sul e perdeu a outra sugestão ‘Paulista’.


Progresso chegou com a Estrada de Ferro

Somente em 1.868 é retomada a campanha pelo desenvolvimento do povoado de São Caetano. E isto se deve a inauguração da Estrada de Ferro produzida pelos ingleses, a São Paulo – Railway Company.

Sistema funicular de Paranapiacaba da Estrada de Ferro inglesa São Paulo Railway, hoje Santos/Jundiaí

Dez anos após, o Governo Imperial adquire as terras de São Caetano para instalar o famoso Núcleo Colonial, visando incentivar a imigração italiana, e com isso, diminuir os efeitos da evasão da mão de obra agrícola.

No dia 29 de junho de 1.877, saem da Itália, com destino ao Brasil, algumas famílias de imigrantes embarcadas no porto de Gênova, pelo “vapor” Europa. O primeiro grupo de italianos, integrado por 28 famílias, chega a 28 de julho, ao Núcleo Colonial, que foi instalado com a presença do Dr. Sebastião José Pereira, Presidente da Província e do Engenheiro Leopoldo José da Silva, da Comissão de Terras e Colonização.

Depoimento importante foi concedido ao Jornal de São Caetano, em 25 de julho de 1948, por José Thomé, filho de Tomaso Thomé, integrante desse grupo de imigrantes. Ele assim narrou o fato: “Quando aqui chegamos, o trem parou diante do lugar onde hoje se instala o alojamento de conserva da Estrada de Ferro. Tudo era mato ao redor, havendo apenas uma ‘picada’ que, da Estação, conduzia até a igreja. Caminhamos por ela para encontrar, afinal, uns casebres à volta do templo. Tudo o que era São Caetano, ali estava, então”.


A real idade de São Caetano do Sul

Quando me perguntam por que ainda se diz que São Caetano do Sul tem 148 anos, quando a verdade é que a idade é 76 anos eu afirmo que é por falta de coragem e de vontade política!

Durante quatro séculos, todas as sete cidades do Grande ABC eram conhecidas por Terras de Tijucuçu, aliás até um pedaço da Moóca, Ipiranga e do Sacomã. E todo este território era uma vila gigante do município de São Paulo.

Em 1890 foi criado o município de São Bernardo, e todo este território do Tijucuçu, menos a do lado de lá do Rio Tamanduateí, passou a pertencer a este novo município. Isto perdurou até 1938, quando se decidiu que todo este município passaria a se chamar Santo André. Então até São Bernardo voltou a ser uma vila, um distrito. E de uma hora para outra São Caetano passou a ser uma vila, mas de Santo André.

Está claro que a cidade de São Caetano do Sul não existia até a realização do plebiscito de 1948, quando conquistou sua autonomia de Santo André. Tanto que quem nasceu nesta antiga São Caetano, não eram são-caetanenses, já que a documentação declarava ser de São Bernardo, ou de Santo André. Afinal não se emite certidão com o nome da vila, não é mesmo?


Há 148 anos era fundado o Núcleo Colonial Italiano

Em homenagem aos 148 anos de Fundação do Núcleo Colonial que acolheu os imigrantes italianos no dia 28 de julho de 1877 recordamos os patriarcas das famílias da primeira e da segunda leva que vieram inicialmente da Região de Treviso e depois de Mântua.

Faziam parte da primeira leva de imigrantes: Antonio Gallo, Antonio Martorelli, Antonio Garbelotto, Caetano Garbelotti, Celeste Pantallo, Domenico Bottan, Domenico Perin, Eliseo Leoni, Emílio Rossi, Francesco Bortolini, Francesco Fiorotti, Francesco de Martini, Felippe Roveri, Giácomo Dalcin, Giovanni Moretti, Giuseppe Braido, Giovanni Perucchi, Giovanni de Nardi, Giovanni Thomé, Giuseppe de Savi, Giuseppe Salla, Luigi D’Agostini, Modesto Castelotti, Natale Furlan, Pietro Pessotti, Paolo Martorelli, Pasquale Cavana e Thomaso Thomé.

Seis meses depois, chegavam os chefes de família: Luigi Baraldi, Francesco Coppini, Isacco Coppini, Francesco Carnevalle, Francesco Ferrari, Modello Dionisio, Genaro Luciani, Giovanni Vicentini, Francesco Modesto, Eugênio Modesto e Domenico Vicentini.

Atualmente a cidade de São Caetano do Sul é formado por quinze bairros. São eles: 1- Fundação. 2- Centro. 3- Santo Antônio. 4- Santa Paula. 5- Bar-celona. 6- Olímpico. 7- Oswaldo Cruz. 8- Cerâmica. 9- Boa Vista. 10- Santa Maria. 11- Jardim São Caetano. 12- Nova Gerte. 13- Mauá. 14- Prosperidade e 15- São José.


População de São Caetano se cansa de morar na “villa”

Nos idos de 1945 nasce na então vila São Caetano, que pertencia ao município de Santo André, um movimento pró autonomia pedindo a separação. Desta forma em 1.948, sob a égide da Sociedade Amigos de São Caetano e incentivado pelo Jornal São Caetano, criado dois anos antes, é realizado um abaixo-assinado com 5.197 nomes de moradores, todos maiores de 18 anos e que é entregue na Assembleia Legislativa do Estado, reivindicando o plebiscito que viria acontecer em 24 de outubro daquele ano.

Nessa época São Caetano tinha uma população de 40. 039 habitantes. Participaram do plebiscito 9.520 moradores e destes, 8.463 votaram pelo Sim, autorizando que pela Lei n° 233, fosse criado em 24 de dezembro daquele ano, o Município de São Caetano, acrescido do apêndice “do Sul”, para diferenciar de uma cidade de Pernambuco, que já tinha este nome.

Em 1° de janeiro de 1.949 é instalado o Município de São Caetano do Sul. No mês de março acontece a eleição quando foi eleito como seu primeiro prefeito, o Dr. Ângelo Raphael Pellegrino e eleita a primeira Câmara de Vereadores, que tem como seu primeiro presidente o eleito Accácio Novaes. A posse aconteceu no dia 3 de abril de 1949.


A fazenda do espanhol e da portuguesa

Quando nem se pensava no nome São Caetano, por aqui era tudo Tijucuçu, um termo que quer dizer local de muito barro, terra barrenta. O nome foi dado pelos índios que aqui viviam por volta de 1500. Consta que naquele tempo era comum ver por esta Mata Atlântica, animais ferozes, até como as onças.

O primeiro registro documental da existência de habitantes “nessa outrora” São Caetano está em um inventário datado de 21 de janeiro de 1597 feito pelo cartório da época dando conta de um sítio com roças e casebres, pertencente ao alfaiate espanhol Diogo Sanches. Este inventário foi realizado por causa da morte da esposa do Diogo, a portuguesa, Isabel de Félix.

O casal tinha um filho: Miguel. E com eles, moravam uma família indígena, todos escravos, formada pelo pai, a mãe e mais seis filhos. Está nos registros que Diogo Sanches ficou doente e morreu de maneira muito rápida, no ano de 1.598.


Rio fica poluído e o Trabalho fica longe!

Dois atrativos dos moradores do Bairro da Fundação que deixaram de ser praticados nos idos de 1942 foi o de pescar e até nadar. Isso por que naquele ano o Rio Tamanduateí começou a ficar poluído. Diziam na época, que por causa da indústria Rhodia de Santo André. Numa manhã o rio apareceu com uma cor estranha e em seguida começaram a surgir toneladas de peixes mortos. Desde então, nunca mais eles foram visto neste rio. Era a parte colateral do progresso fazendo morada na pacata vila.

Por volta de 1950 teve início uma nova forma de convivência no Bairro da Fundação, onde até então todos moravam e trabalhavam. Com a instalação de grandes empresas no entorno da Rodovia Anchieta, em São Bernardo, os moradores deste bairro foram trabalhar na cidade vizinha.

Transportados em peruas Ford (micro-ônibus), da Estação de São Caetano até o Largo São João Batista, no Rudge Ramos chegavam para trabalhar na Fontoura, Mercedes, Bruna, (futura Cotonifício São Bernardo) e Martini & Rossi. A Fundação começava a se transformar no hoje bairro dormitório.

Era o início da saturação industrial pela falta de espaço e claro de tantos outros fatores.


São Bernardo cobrava impostos de São Caetano

São Caetano já foi povoado, núcleo colonial, vila, distrito, e sempre pertencia a um município diferente. Por quatrocentos anos tinha o nome de Tijucuçú e pertencia ao município de São Paulo. Depois passou a pertencer à São Bernardo. Anos depois era distrito de Santo André.

A realidade é que São Caetano ó passou a existir como cidade a partir do plebiscito de 24-10-1948.

O livro de Nicola Perrella: “Entre as torbas de São Caetano” traz em sua página 166 o episódio com o título “Imposto Alvoroçado” em que conta que certa manhã, as olarias de São Caetano ficaram todas alvoroçadas por causa de dois homens regularmente trajados que por lá apareceram. Eram os fiscais da Prefeitura de São Bernardo que vinham informar que deveriam pagar os impostos atrasados, ou fechar as olarias.


São Caetano foi palco e cenário da Guerra de 1924

A Revolta Paulista de 1924, também chamada de Revolução Esquecida, Revolução do Isidoro e Revolução de 1924 aconteceu em parte na então Vila São Caetano. Estes fatos estão muito bem documentados no livro Subúrbio do professor José de Souza Martins.

A Revolta foi um levante militar organizado por jovens oficiais do Exército que faziam parte do Tenentismo. Os rebeldes pretendiam derrubar o governo de Artur Bernardes, descontentes com a crise econômica e a concentração de poder nas mãos de políticos de São Paulo e Minas Gerais, o famoso “poder do café (SP) com leite (MG)”.

A capital paulista foi palco desse grande conflito urbano do Brasil que perdurou de 5 de julho até o dia 28 daquele mês, fazendo com que o governador de São Paulo, Carlos Campos abandonasse a sede do governo paulista e se refugiasse no interior para se defender dos ataques dos tenentistas.

Assim São Caetano acabou envolvido no conflito que fez de nossas ruas um campo de batalha. E no Bairro da Fundação o então Cinema Central se transformou em um Hospital de Campanha das Tropas Legalistas, que inclusive montaram na Estação Ferroviária seu Quartel General.