Nos últimos anos temos acompanhado a explosão do número de casos de violência contra mulheres no Brasil. Dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostram que, em 2025, o estado de São Paulo registrou 54 mil casos de violência contra a mulher, mas apenas 9 mil denúncias foram formalizadas. Em 2024, foram mais de 150 mil registros, com somente 27 mil denúncias oficiais, o que escancara o abismo entre ocorrência e denúncia revela um problema estrutural e psicológico que segue presente no cotidiano de muitas brasileiras.
De violência física e doméstica a abusos psicológicos, morais e patrimoniais, a realidade imposta a milhares de mulheres ainda é marcada pela dor e pelo silêncio. E, para a advogada e coordenadora do curso de Direito da Faculdade Anhanguera, Marcela Fernandes G. Soares, é exatamente nesse silêncio que a violência encontra terreno fértil para continuar. “O medo de denunciar está ligado a diversos fatores, como dependência emocional, financeira, medo de represálias, vergonha e até desconhecimento sobre os próprios direitos. Muitas acreditam que não terão acolhimento ou que a denúncia não vai mudar sua realidade”, afirma.
Marcela destaca que, ao longo de quase duas décadas, a Lei Maria da Penha se tornou um marco na proteção às mulheres, estabelecendo medidas protetivas, criminalização do agressor, atendimento prioritário e até direito a matrícula em escolas para vítimas e seus filhos. “Foram grandes conquistas, mas é preciso reconhecer que a eficácia da lei depende de sua aplicação, fiscalização e principalmente da confiança das mulheres em usá-la”, reforça a docente.
O desafio, segundo ela, vai além do campo jurídico. Envolve educação, autonomia econômica e políticas públicas de prevenção e acolhimento. “Precisamos de ações contínuas, não só em datas simbólicas. A mulher precisa saber que não está sozinha, que tem onde buscar ajuda e que será ouvida com respeito”, afirma.
Ela destaca que, para mudar esse cenário, é essencial ampliar o debate desde cedo. “Educar para a igualdade de gênero nas escolas, nas famílias e nas empresas é parte do caminho. Além disso, oferecer oportunidades para que as mulheres tenham independência financeira pode ser decisivo para sair de um relacionamento abusivo”, pontua.
Marcela também reforça a importância de canais como o 180 (Central de Atendimento à Mulher) e o 190 (Polícia Militar), que funcionam como porta de entrada para o rompimento do ciclo de violência. “O silêncio não protege, ele perpetua. A mulher precisa ser acolhida, não julgada. A denúncia pode ser o primeiro passo para salvar uma vida.”
Suporte gratuito em São Paulo
E para as mulheres de São Paulo que buscam orientação jurídica, o Núcleo de Apoio Jurídico da Anhanguera oferece suporte gratuito. As interessadas podem buscar encaminhamento na unidade mais próxima, confira abaixo alguns locais de atendimento.
Osasco: Atendimentos acontecem de terças: das 11h às 13h30 e das 16h às 18h50; Quartas, das 11h às 13h30. Não é necessário agendamento, basta comparecer com RG, comprovante de endereço e renda.
Vila Mariana: Terças e Quintas, das 14h às 18h. Não é necessário agendamento.
Pirituba: Quintas, das 15h às 21h.
Guarulhos: Terças e quintas das 10h00 às 12h00, agendamento pelo telefone (11) 2107-1947.
Taboão: Terças, das 13h às 18h. Atendimento por agendamento via WhatsApp (11) 4666-2219 com Dra. Gabriela.
Santana: Segundas e quartas, das 14h às 16h. Para mais informações entrar em contato pelo telefone (11) 2972-9038/9040.
São Bernardo do Campo: terças-feiras e quintas-feiras no horário das 14h às 18h.