Casa Neon Cunha promove evento sobre direito à cultura

O evento, realizado em parceria com estudantes da Faculdade Cásper Líbero, contou com um painel de palestras da Profa. Dra. Maria Lessa (USP) e da influenciadora Alessandra Azevedo, seguido de uma oficina de lambe lambe

A Casa Neon Cunha, em parceria com a agência experimental Echo, formada por estudantes da Faculdade Cásper Líbero, promoveu na quinta-feira (22) o evento: “Direito à cultura: Quais vozes falam e quais vozes são ouvidas?” em sua própria sede. O evento contou com um painel único de palestras da Profa. Dra. Maria Lessa, da área de Literatura Portuguesa da USP, e da influenciadora digital Alessandra Azevedo (@Lekkaaz), além de uma oficina de lambe lambe para os residentes e convidados.

Conhecida como uma das principais e mais reconhecidas organizações da sociedade civil do país, a Casa Neon Cunha é voltada ao acolhimento de pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, com foco especial em pessoas trans e travestis. Localizada na região do ABC Paulista, a Casa é reconhecida por projetos de capacitação profissional e assistência psicossocial para os assistidos e se tornou uma referência para a comunidade na região.

Inspirado no Dia Nacional da Cultura, celebrado no dia 05 de novembro, o bate-papo teve como objetivo discutir o acesso à cultura como direito básico à dignidade do ser humano, além de como a comunicação pode ser uma ferramenta utilizada nesse processo. Durante a conversa, a influenciadora digital Alessandra Azevedo compartilhou memórias de sua infância como criança trans e sua trajetória profissional até começar a narrar sua própria história nas redes. Suas vivências, tão próximas às dos residentes da Casa, criaram um espaço de acolhimento e trouxeram perspectivas reais de futuro para quem muitas vezes não as enxerga.

Maria Lessa iniciou a discussão com uma reflexão sobre o que tem sido estudado na literatura a respeito do significado de cultura. As duas conduziram a palestra por mais de uma hora de forma leve e divertida e, ao final, a professora recitou o poema “Mulher de Vermelho”, da poeta brasileira Angélica Freitas, que, embora tenha sido escrita por uma autora cisgênero, aborda de forma sensível a experiência de desumanização vivida por mulheres, uma vivência reconhecida pelos residentes como algo compartilhado e universal.

“Podemos pensar a cultura como aquilo que nós, humanos, fazemos e produzimos. Cultura como uma coisa que diferencia a gente do que seria natural. Quando nós fazemos uma distinção entre o que é natural e o que é cultural, estamos dizendo um pouco de uma atividade caracteristicamente humana, de criação de coisas, condições de vida, símbolos, objetos, cidades e relações”, afirma Maria Lessa, professora doutora da Universidade de São Paulo.

“Eu vim de uma época que a gente não tinha o termo ‘trans’. Era travesti, traveco, todos os nomes, e eu não me identificava porque vinham até mim como xingamento, como uma ofensa. Hoje em dia, me sinto super confortável, eu me amo e amo quando as pessoas me colocam no lugar de uma travesti.”, afirma Alessandra Azevedo, criadora de conteúdo e influenciadora digital.

Após o painel, foi promovida uma oficina de lambe lambe — uma forma de arte acessível e coletiva que democratiza o acesso à cultura e é reconhecida como uma linguagem de ocupação e resistência nas ruas. A atividade proporcionou um momento especial de inclusão entre os participantes, reforçando a mensagem de que a arte é para todos e oferecendo, na prática, uma ferramenta simples e acessível para que pudessem se expressar.

“Promover este evento sobre o direito à cultura é fundamental para a Casa Neon Cunha, pois entendemos que o acolhimento passa, inevitavelmente, pelo direito à dignidade. A presença de nomes como a Profa. Dra. Maria Lessa e a influenciadora Alessandra Azevedo é de um valor inestimável para nossos residentes e conviventes, porque não apenas validam as nossas narrativas no debate acadêmico e na mídia, mas, acima de tudo, reforçam a mensagem profunda de que as vozes vulnerabilizadas merecem, e devem, ser ouvidas.”, afirma Thayô Amaral, Diretora de Comunicação da Casa Neon Cunha.

A primeira edição do evento “Direito à cultura: Quais vozes falam e quais vozes são ouvidas?”, promovido pela Casa Neon Cunha, foi um marco. O encontro gerou reflexões e memórias importantes para os participantes, reforçando a mensagem fundamental de que o direito à cultura é inegociável.