tem momentos em que você realmente segura tudo. se mantém de pé, sustenta a casa, responde mensagens, resolve problemas, disfarça o medo, disfarça o cansaço, disfarça o peso. parece que você nasceu com esse papel colado na testa. alguém que aguenta. alguém que entende. alguém que não quebra. até que quebra. e aí ninguém entende.
o mundo acostuma com a sua força. quanto mais você entrega, mais te cobram. quanto mais você segura, mais te sobrecarregam. parece que ser forte é uma sentença. e o pior é que você mesmo acredita nisso. começa a achar que não pode vacilar, que não pode chorar, que não pode demonstrar fraqueza, que não pode pedir ajuda. você começa a confundir força com obrigação. começa a funcionar no automático. e aí vem o medo de parar. porque se parar, tudo desaba. e você não sabe mais separar onde termina a responsabilidade e onde começa o abandono de si.
mas a verdade é que ninguém aguenta o tempo todo. ninguém nasceu pra suportar tudo. você também sente. também erra. também falha. e fingir o contrário só adia o colapso. porque fingir força não é ser forte. é se isolar. é construir uma armadura que não te protege, só te endurece. e o que endurece demais, uma hora estilhaça.
ser forte o tempo todo é um mito. e um mito cruel. não existe esse personagem. o que existe são pessoas cansadas tentando manter uma imagem. e essa imagem, no fundo, não serve pra nada além de te afastar dos outros e de si. você pode ser referência, pode ser apoio, pode ser exemplo. mas antes de tudo, você é humano. e isso significa que tem dias em que não vai dar. em que você vai precisar sumir, respirar, chorar, desabar. e tudo bem.
pedir ajuda não diminui você. admitir que tá difícil não tira seu valor. pausar não apaga tudo que você já fez. e se alguém achar que sim, o problema é dessa pessoa — não seu. você não é menos por não aguentar. você é real. e ser real, nesse mundo de gente fingindo o tempo inteiro, é um ato de coragem.
então não se cobre mais do que a vida já cobra. você tem o direito de não ser o pilar todos os dias. tem o direito de se priorizar, de dizer que não dá, de não estar disponível, de não querer conversar. tem o direito de falhar e de se refazer. e se alguém não entende isso, talvez não mereça o seu melhor.
porque a força que importa mesmo não é a que esconde a dor. é a que reconhece a dor e ainda assim escolhe continuar. mas no seu tempo. no seu ritmo. sem carregar o mundo inteiro nas costas como se isso fosse virtude. não é. é abandono. e você não veio até aqui pra se perder de novo.
enrico pierro
@enricopierroofc (Instagram, TikTok, X e Threads) e em seu blog: https://enricopierro.com.br/
escreve semanalmente para mais de 40 jornais e portais pelo brasil. seus textos também estão disponíveis nas redes sociais, onde compartilha reflexões sobre o cotidiano, sentimentos e humanidade.