A cidade que hoje abriga um dos maiores parques industriais do país, com economia diversificada e presença marcante no setor de serviços, nasceu de um povoamento disperso que avançava a partir de São Paulo no início do século XVIII. Ao longo de quase dois séculos, até o começo do século XX, Mauá destacou-se como grande fornecedora de lenha para São Paulo, Santos e outras cidades, especialmente após a inauguração da estação ferroviária do Pilar, em 1883. A lenha foi, portanto, o primeiro produto de peso na economia local.
Com o avanço da extração de madeira, a retirada da vegetação nativa expôs grandes rochas no solo. Isso abriu caminho para a exploração das pedreiras do Pilar, posteriormente Mauá. Ali surgiu a figura dos escarpelinos – trabalhadores especializados no corte da pedra – e também alguns dos primeiros movimentos sindicais da região, já na primeira década do século XX, fortemente influenciados por imigrantes italianos e pelo pensamento anarco-sindicalista. A produção de paralelepípedos e o trabalho com a pedra impulsionaram uma nova fase econômica, ainda marcada pelo extrativismo, mas mais diversificada.
A capital nacional da porcelana
Outro capítulo decisivo no desenvolvimento do município veio com as olarias, que abasteciam a capital e a Baixada Santista com tijolos. Esse ambiente, aliado ao solo rico em argila branca, criou as condições ideais para a instalação das primeiras fábricas de cerâmica e porcelana, que mais tarde renderiam a Mauá o título de “Capital Nacional da Porcelana Fina”.

A Viúva Grande e Filhos, também conhecida como Fábrica Grande, foi inaugurada em 1914 e marcou o início dessa nova vocação industrial. Outras empresas surgiram ainda nas primeiras décadas do século XX, como a Fábrica Paulista de Louças (1917), a Cerâmica Cerqueira Leite (1925), a Santa Helena (1935) e a Porcelana Mauá (1937),esta última considerada pioneira na produção de porcelana fina no Brasil.
O auge desse ciclo viria na década de 1940 com a Empresa Porcelana e Cerâmica Real, posteriormente chamada Schmidt, fundada em 1943. Seus produtos alcançaram reconhecimento internacional e consolidaram o nome de Mauá no setor. Com o passar dos anos, porém, a expansão urbana e a diversificação da economia reduziram a participação da porcelana no conjunto das atividades locais. Ainda assim, a tradicional Porcelana Kojima mantém operação no bairro do Feital.
O polo petroquímico
Um novo eixo econômico se estabeleceu em 1954, com o início das atividades da Refinaria de Capuava (então Refinaria União). A presença da Recap atraiu empresas ligadas à cadeia produtiva do petróleo – metalurgia, logística, química, petroquímica e materiais elétricos – e acelerou a transformação industrial do município. Em 1975 foi criado o Polo Industrial do Sertãozinho, que se tornou um espaço fundamental para micro, pequenas e médias empresas.
A ferrovia e a formação do núcleo urbano
A inauguração da estação do Pilar, em 1883, pela São Paulo Railway (hoje linha 10-Turquesa da CPTM), foi decisiva para o desenvolvimento do povoado que crescia ao redor da capela do Pilar Velho, às margens do Tamanduateí. Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, havia adquirido terras na região em 1861, e seu protagonismo na história ferroviária brasileira motivou a mudança do nome da estação, em 1926, de Pilar para Mauá.
O crescimento local levou à elevação do distrito à categoria de Distrito de Paz de São Bernardo do Campo, em 1934, e posteriormente, em 1938, à condição de distrito do recém-criado município de Santo André.
Caminho para a emancipação
Com economia em expansão e identidade própria cada vez mais consolidada, crescia também o movimento pela emancipação. Em 22 de novembro de 1953, um plebiscito realizado no Grupo Escolar Visconde de Mauá decidiu a questão: 658 votos a favor, sete contra e cinco nulos ou brancos. Na época, o distrito tinha pouco mais de 10 mil habitantes.
Instalação do município
Embora reconhecida como município desde 1954, só em 1º de janeiro de 1955, foi oficialmente instalada. Tomaram posse o primeiro prefeito, Ennio Brancalion – escarpelino de origem e figura querida no meio operário – e seu vice, Élio Bernardi.
Texto do historiador Daniel Alcarria