União dos moradores garantiu emancipação da cidade de Diadema

Conheça como foi o início da construção da cidade e como a força popular moveu a liberdade do município

A emancipação política e administrativa de Diadema começou a ser articulada na farmácia de Gustavo Sonnewend Neto durante conversa realizada em janeiro de 1958 entre ele, o professor Evandro Caiaffa Esquível, João de Almeida e o vigário padre Agostinho Bertoli.

Era preciso fazer alguma coisa, pois a vila estava abandonada pela administração de São Bernardo; mal chovia e as ruas ficavam intransitáveis, a limpeza era precária, os serviços públicos eram insuficientes. A humilhação maior era a vila servir de depósito de lixo da sede.

Os moradores foram convocados para uma reunião oficial no dia 27 de fevereiro, na sede do Esporte Clube Vila Conceição. Lá estavam os proprietários, comerciantes, funcionários públicos, operários, lavradores, oleiros, avicultores.

Chácara Conceição

O trabalho coletivo para obter melhorias não era novidade para eles, de acordo com a professora Sylvia Ramos Esquível – uma das emancipadoras – em seu livro ‘Diadema: Sua História’. Ela relata que a ausência do poder público despertou nos moradores o sentimento da união e do trabalho coletivo. “Era o povo que fazia tudo. Não tinha nada aqui. Não tinha luz, não tinha água, não tinha esgoto. Nem estrada tinha”, contou.

Dona Sylvia enumera algumas ações coletivas. Para construir a casa paroquial, a população fez inúmeras quermesses, os oleiros doavam tijolos para a construção das escolas, e até a instalação da rede elétrica foi uma obra conjunta. “Juntamos o dinheiro para a compra dos postes e fios e a Light instalou para nós”, escreveu.
Nessa época, o centro do distrito era a Vila Conceição, que contava com os povoados de Eldorado, Piraporinha, Taboão, Vila Nogueira e Serraria, ligados por caminhos precários e cada qual com vida própria.

O encontro realizado na sede do Esporte Clube Vila Conceição motivou os moradores a buscarem a emancipação. Pelo menos três comissões foram definidas, uma para encaminhar à Assembleia Legislativa o pedido para a realização do plebiscito, uma segunda para recolher assinaturas dos eleitores que moravam no distrito há mais de dois anos, e outra para escrever e distribuir o panfleto ‘O povo de Diadema quer a sua emancipação’.

O texto dizia que os moradores viviam esquecidos, abandonados e desprezados, e enumeravam as desvantagens de continuarem ligados a São Bernardo como a falta de escolas, de posto policial e de atendimento médico no posto de saúde. “Só existimos para pagar impostos e taxas e pedir, inutilmente, de chapéu na mão, as migalhas do serviço público”.

São Bernardo era contra o desmembramento e o poderoso político Lauro Gomes, que já havia sido prefeito da cidade, passou a fazer campanha contrária à emancipação, e contava com adeptos em Piraporinha – pela sua proximidade com a sede – e também com moradores do Eldorado, mais vinculados ao povoado de Santo Amaro.

O panfleto distribuído dizia que a emancipação seria ruim para os moradores, pois a cidade não teria dinheiro para a construção de escolas, do gabinete dentário e do posto médico, e que a sopa escolar seria tirada dos alunos.

A disputa de narrativas continuou até o plebiscito, realizado em 24 de dezembro de 1958. O resultado foi favorável à emancipação por uma diferença de 47 votos de um total de 557 eleitores. Assim, no dia 31 de dezembro o governador Jânio Quadros assinou a lei de emancipação, a primeira eleição foi realizada em 4 de outubro de 1959, e o prefeito Evandro Caiaffa Esquível e nove vereadores tomaram posse no dia 1º de janeiro de 1960.

Texto: Gonzaga do Monte
Centro de Memória de Diadema