Caso Eloá impulsionou captação de órgãos no Centro Hospitalar Municipal

A partir da morte da adolescente, profissionais da unidade passaram a fazer todo o processo dentro do hospital andreense; antes, cirurgias eram realizadas em São Paulo

A morte cerebral de Eloá Cristina Pereira Pimentel, assassinada aos 15 anos pelo ex-namorado em 18 de outubro de 2008, após 100 horas de cárcere privado no Jardim Santo André, abriu as portas da captação de órgãos no CHM (Centro Hospitalar Municipal), ex-Santa Casa de Misericórdia. Na época, os profissionais viabilizaram os transplantes de sete órgãos da adolescente com o consentimento da família: coração, fígado, pulmões, rins, pâncreas e córneas foram doados e proporcionaram novas vidas. Antes, o processo cirúrgico era realizado em São Paulo.
A afirmação foi feita no último dia 26, durante o I Simpósio de Captação de Órgãos e Tecidos do CHM, pelo enfermeiro Paulo Cezar Ribeiro, gerente de Enfermagem no equipamento municipal de Saúde referência nos casos de ortopedia, traumatologia e neurocirurgia. “Podemos dizer que o Caso Eloá, de repercussão inclusive internacional, foi um divisor de águas para os profissionais daqui”, relembrou. Às 5h30 da manhã, do dia 20 de outubro de 2008, a equipe multidisciplinar do hospital terminava o processo de retirada dos órgãos da adolescente, cujo assassinato parou o País.
“Todas as doações viabilizadas eram transferidas para hospitais de São Paulo, fator que implicava em uma grande dificuldade”, apontou Paulo Cezar. A partir daquele triste episódio que estancou a vida de Eloá Cristina, a realidade nesta área mudou dentro do CHM. Uma cultura de doação de órgãos e tecidos está sendo criada internamente na unidade hospitalar, a começar pela educação continuada dos profissionais envolvidos nesse processo. O desafio é viabilizar potenciais doadores e diminuir as perdas.
Números da Central Nacional de Transplantes apontam que, em Santo André, até o último dia 24, 221 pacientes aguardavam em lista de espera dos seguintes órgãos: rins (181), fígados (14), pâncreas (10), corações (8) e pulmões (6), além das córneas/tecidos (duas). No Brasil, em 2012, a fila agonizava com 27.567 pessoas à espera de um transplante. Do total, apenas 7.426 foram realizados, com a devida e obrigatória autorização dos familiares. Neste primeiro semestre, o CHM conseguiu dar uma segunda chance de vida para 26 pessoas, que receberam entre órgãos e tecidos: rins (14), fígados (3), pâncreas (um) e córneas (seis).

PELA CAUSA

Além dos profissionais convidados da área da Saúde que passaram para falar sobre o importante tema nesta manhã, uma presença tímida compôs as fileiras do anfiteatro do CHM. Ana Cristina Pimentel, a mãe de Eloá Cristina, que hoje é militante da nobre causa de doação de órgãos e tecidos e na última sexta-feira (27), Dia Nacional do Doador, participou da caminhada pelas ruas centrais da cidade. “A saudade da minha filha ainda é muito grande, mas o que me gratifica hoje é que foram salvas outras vidas”, afirmou, ao ressaltar que, na época do crime, não sabia da importância do ato.