A chegada de um novo ano é, para muitos, motivo de projetos e sonhos. Martin Luther King Jr. iniciou um de seus mais famosos discursos dizendo “Eu tenho um sonho”. Porém, diante das condições em que hoje estamos, podemos perguntar: ainda é possível sonhar? Que sonhos podemos ter?
Chegamos ao início de 2025 em uma situação paradoxal. Por um lado, embalados pelo neoliberalismo e sua força de individualização da sociedade e concentração da riqueza, nossos sonhos não passam de imaginar saídas individualistas, seja para situações de carência e pobreza, seja para a realização de desejos fomentados pelas propagandas. Uma demonstração disso é a enorme quantidade de pessoas que recorre a jogos de apostas ou loterias. Nossas formas de ação coletiva estão fora de moda e dificilmente atraem parcelas significativas da população. Num mundo de cada um para si, só sabemos sonhar individualmente.
Por outro lado, a necessidade que tem o capitalismo de constante crescimento na economia está levando o planeta à exaustão. As tragédias climáticas e a evidente destruição da biosfera que assistimos, atestam isso. Edgar Morin diz que na produção capitalista há uma inversão: o que é pensado como produto principal vira sub-produto do que é descartado, dado sua permanência e impacto no ambiente. O planeta está perdendo a capacidade de absorver os dejetos da sociedade. A elevação do nível dos mares, devido à queima de combustíveis fósseis, é exemplo disso. Somente para se ter uma ideia, o derretimento dos gelos das camadas polares e das cadeias de montanhas como o Himalaia poderá elevar em vários metros o nível dos oceanos. A elevação de apenas um ou dois metros neste nível seria suficiente para cobrir grandes megalópoles como Nova Iorque e Rio de Janeiro.
Levando seriamente isso em conta, voltamos à pergunta: há possibilidade de sonhar com um futuro para a sociedade? Ou para o planeta Terra?
Sim! As condições são adversas, mas o futuro ainda está por ser escrito. Como diz Michel Löwy, para isso há que se interromper os projetos ecocidas, tendo como horizonte uma mudança de civilização que rompa com o sistema capitalista industrial moderno.
Uma civilização baseada na solidariedade, em projetos coletivos e no respeito à mãe Terra é difícil, mas é possível. Para isso temos que esperançar, como dizia Paulo Freire. Ou seja, atuarmos hoje em sintonia com o futuro que almejamos alcançar.
A única luta que já está perdida é aquela que nunca foi travada.
Professor Luiz Eduardo Prates
luizprts@hotmail.com