A reeleição de Donald Trump nos EUA parece consolidar uma transformação no consenSo estabelecido entre os setores dominantes da grande burguesia estadunidense, gerando uma mudança profunda na política econômica e externa do país.
Desde que o capitalismo monopolista se estabeleceu como forma dominante no final do século XIX, a regra entre as nações imperialistas foi a competição feroz e destrutiva por mercados, territórios e colônias, cujo ponto culminante foi a Primeira Guerra Mundial e a primeira fase da Segunda Guerra Mundial.
No entanto, com a vitória da União Soviética sobre a Alemanha Nazista e a criação de um sistema socialista que surgia como alternativa à destruição causada pelo capitalismo, o imperialismo assumiu uma nova feição. Em vez de conflitos generalizados, em que cada nação imperialista lutava contra as outras, foi gerado um consenso – hegemonizado pelos EUA – sobre a necessidade de certa unidade para conter os constantes conflitos e combater o avanço do mundo socialista.
Essa nova configuração imperialista saiu vitoriosa da Guerra Fria, e o bloco liderado pelos EUA tornou-se hegemônico nos anos 1990, consolidando-se o processo de “globalização” (ou mundialização do capital). Esse novo momento histórico, por um tempo, foi satisfatório para os EUA, mas deixou como legado um esvaziamento relativo da industrialização no país e custos cada vez mais altos, com “baixo retorno” para a economia estadunidense.
A decadência dos EUA tornou-se cada vez mais evidente quando comparada ao processo de ascensão da China.
Isso nos leva ao cenário atual, em que se forma um novo consenso na elite americana. Essa elite entende ser necessário dar uma guinada radical na atuação internacional e econômica dos EUA, pois o caminho seguido desde o fim da Guerra Fria estaria conduzindo o país a um processo contínuo de declínio.
O giro político, portanto, é uma tentativa de frear essa trajetória, mesmo que isso signifique a destruição dos organismos internacionais criados após a Segunda Guerra Mundial e o abalo de alianças como a OTAN. É um sinal para os países imperialistas europeus de que precisam cuidar de si próprios, representando, a médio prazo, o aprofundamento dos conflitos entre essas nações. Em síntese, os EUA estão dizendo aos países centrais do capitalismo: “Em tempo de Murici, cada um por si.”
Max Marianek
Graduado em História
Funcionário Público