O mundo da arte

Quem vê a arte de maneira idealizada terá, no filme argentino “Minha obra-prima”, a demonstração de como comercializar pinturas e outras manifestações visuais é um negócio como qualquer outro, tendo talvez apenas como principal diferença a falta de critérios estritamente objetivos para estabelecer valores.

Nesse reino imponderável de subjetividades, a obra traz dois personagens magistrais: um pintor valorizado nos anos 1980 que não conseguiu renovar seu repertório visual para o a guinada para o universo da arte conceitual, da fotografia e da videoarte dos anos 2000; e um galerista, amigo do artista, com um tino para os negócios que o leva à ilegalidade.

Após um acidente em que o artista bêbado, falido e decadente perde a memória por algum tempo, surge a possibilidade de se elaborar uma estratégia para gerar elevados lucros. E isso passa pela maneira de trabalhar com o mercado, geralmente mais disposto a valorizar o artista já falecido, “redescobrindo” o seu valor.

Valorizado pelas interpretações dos atores e pelas reviravoltas do enredo, o filme questiona o mercado de arte naquilo que lhe é essencial: a maneira como são monetarizadas as produções artísticas. Nesse sentido, o pintor enfocado é um exemplo. Avesso a entrevistas, temperamental e fiel ao seu trabalho de 30 anos atrás, mantém o talento, mas perde o rumo da vida. Como dar-lhe um novo sentido é a questão central proposta pelo diretor Gastón Duprat.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.